O efeito combinado das alterações climáticas, da pandemia da covid-19 e dos conflitos violentos está a comprometer o objetivo de eliminar a fome no mundo em 2030. Os estudos realizados no final do ano 2021 revelam que cerca de 45 milhões de pessoas no mundo estão em risco de fome, um número que representa um aumento significativo em relação aos 27 milhões, em 2019, antes da pandemia.
De acordo com os dados do último relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas, muitos países estão já numa “contagem regressiva para a catástrofe” e que poderá agravar-se ainda mais no próximo ano. Alcançar a “Fome zero” integra-se na Agenda 2030 das Nações Unidas, um programa global de objetivos sociais, económicos e ambientais, que visa promover a paz, a justiça e instituições eficazes.
Quer os relatórios sobre a fome das Nações Unidas quer os elaborados por organizações não-governamentais (ONG), publicados este ano para analisar o estado da fome no mundo, identificam cerca de meia centena de países onde o problema se coloca de forma grave, alarmante ou muito alarmante.
África a sul do Sara é a região do mundo onde se registam as taxas mais elevadas de desnutrição, raquitismo e mortalidade infantil. A subnutrição infantil é considerada o principal problema da fome na região. De acordo também com o Índice Global da Fome, da responsabilidade da ONG Welthungerhilfe e Concern Worldwide, a Somália sofre de um nível de fome considerado extremamente alarmante, enquanto em cinco outros países – República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Madagáscar e Iémen – a situação é classificada de alarmante. Países como Angola e Moçambique encontram-se numa lista de 31 outros Estados onde a situação é considerada como grave.
A exemplo do que acontece com o aumento do número de pessoas afetadas, em 2012, dez novos países juntaram-se à lista desta geografia da fome no mundo. A situação é tanto mais preocupante quanto os últimos dados representam uma regressão nos progressos alcançados nos últimos anos no combate à fome.
Covid-19: oito anos para recuperar da crise
De salientar que, segundo os dados da ONU referentes ao período anterior à pandemia no mundo, havia já 811 milhões de pessoas a sofrer de fome crónica, o que equivale a quase 10 por cento da população mundial. Em contrapartida, todos os anos, segundo os mesmos dados, são desperdiçados 630 milhões de toneladas de comida.
O aumento da fome é um sintoma dramático do crescimento da pobreza. Ainda no início de dezembro, o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), referiu que, no melhor dos cenários, o “mundo levará oito anos para se recuperar da crise gerada pela covid-19 e retornar aos níveis de pobreza, antes da pandemia”. Atualmente, 60 milhões de crianças vivem em lares pobres e mais de 23 milhões deixaram de ser vacinadas, o maior número registado nos últimos 11 anos, acrescenta a UNICEF.
Texto: Carlos Camponez