A uma semana das eleições legislativas, depois de tantos debates e de campanhas de rua, não sei se a grande maioria dos eleitores se encontra suficientemente esclarecida sobre os candidatos e os seus programas. Não existindo um outro tipo de julgamento de quem exerceu o poder governativo senão este sufrágio, retenho, pessoalmente, que uma certa impunidade da leviandade, do laxismo, presente na governação pós 25 de abril, tenderá a continuar instalada no seu interior. Há sempre quem vai andar por aí, quem vai e vem, quem devendo estar proibido de exercer cargos públicos, a eles torna, sem vergonha e como se nada fosse – aliás, como se essa fosse a coisa mais natural de qualquer vida pública.
Por isso, as eleições não julgam devidamente ninguém e talvez, na melhor das hipóteses, consigam escolher, entre quem vai a votos, um possível mal menor. Mas depois a questão não está apenas em saber se estamos todos bem informados sobre os 21 partidos que constam da lista de voto, mas, se o que têm apregoado, tem efetivamente alguma relação com o quotidiano do comum mortal. É que tal como acontece com inúmeras organizações, também os partidos políticos nascem não da terra, dos seus povos, das suas reais dificuldades e desejos, mas do interesse de pessoas e grupos sobre estes mesmos. Se o distanciamento entre quem governa e é governado sempre existiu, ele hoje permanece na forma de mundos e condomínios à parte. Reféns de ideologias forjadas em laboratório de ideias, os partidos políticos outro não fazem que obrigar os eleitores a calçar um sapato que nada tem a ver com os seus pés. E cada legislatura que vá até ao fim é frequentemente uma insistência penosa, com danos nas pessoas, no seu dia-a-dia, sobre calçado incompatível.
As pessoas desejam saúde, educação, habitação, trabalho, segurança, proteção, razoáveis níveis de bem-estar presente e com futuro, e o que recebem, não poucas vezes em troca, são o divertimento de uma classe politica que sempre viveu bem e que fora das instituições do Estado, alguns depois de 20, 30 e 40 anos como deputados, continuam a fazer carreira nas grandes empresas, na banca, nas fundações como o noticiavam uma vez mais, por estes dias, os meios de comunicação de social.
Nem sempre os números relativos a 6 anos de governação socialista e à esquerda batem com outros ao centro ou à direita. Imersos em “fake news e fake information”, torna-se cada vez mais difícil de acreditar dados, estatísticas e sondagens. Mas para quem anda na rua, para quem lida com a realidade não quantificada ou fora dos números, as pessoas sofrem e morrem de hipotermia dentro das suas casas; as pessoas não conseguem pagar medicamentos, alimentos, uma fruta; as pessoas, muitas delas idosas, ficam longas horas à espera numa urgência de hospital, sem comer; as pessoas com 30, 40, 50 anos são demasiado velhas para trabalhar; as pessoas deprimem face às exigências de um trabalho cada vez mais competitivo e tecnológico; as pessoas não são que números de uma imparável cadeia de produção, sem escrúpulos e limites; as pessoas são prisioneiras de um emprego perpetuador de pobreza; as pessoas são estrangeiras na sua própria terra ou em terras habitadas por outros.
Acusados, culpados, justiceiros, todos eles se erguem em caravanas apressadas pelo país fora, à procura de votos. Pena que num dia 30 de janeiro estes se tenham que considerar, e não se possa votar de todo o país que continua a fazer tanta falta a Portugal, como projeto real e sustentável.