Num momento em que a tempestade tropical Ana “continua a alagar” diversas províncias moçambicanas com “custos preliminares estimados de reconstrução em cerca de 1.7 mil milhões de euros”, uma “nova ameaça paira sobre o país”, nomeadamente o ciclone Batsirai, que “está agora em Madagáscar, na categoria quatro, com ventos de 230 quilómetros/hora”, e com “potencial para entrar no canal de Moçambique atingindo a zona sul”, segundo as projeções atuais, comunicadas pela organização “Oikos – Cooperação e desenvolvimento”. Face a esta ameaça, o Instituto Nacional de Meteorologia, já deixou a mensagem – “Maputo, preparemo-nos”.
A este propósito, recorde-se que o ciclone Idai, que atingiu a Beira em 2019, foi de categoria três com ventos de 205 quilómetros/hora. Perante este cenário, Dinis Chembene, gestor de um programa na área de desastres e alterações climáticas da Oikos em Moçambique, lembra que a maioria das famílias moçambicanas pobres sofre com insegurança alimentar aguda, nomeadamente nas regiões atingidas por catástrofes naturais nos últimos anos.
“Grande parte da população afetada está ainda em processo de recuperação dos desastres naturais anteriores como o ciclone Idai, o Chalane e o Eloise. Foram feitas ainda apenas duas a três épocas agrícolas, o que é muito pouco para as comunidades recuperarem. O nível de produção não foi o esperado e agora tudo se repete. As famílias e comunidades não estão a produzir na sua máxima potencialidade e isso claramente criará situações de insegurança alimentar. Haverá pessoas com fome que estão impedidas de produzir, com os seus campos alagados, que ficarão dependentes de ajuda externa alimentar”, explica o responsável.
As vítimas poderão vir a recuperar a produção através de sementeiras pós-cheia, mas as famílias mais pobres vão precisar de sementes adicionais. Ao mesmo tempo, a Oikos adianta que em Cabo Delgado “têm surgido ataques esporádicos de pequenos grupos dispersos de insurgentes, reacendendo a tensão e o medo entre a população local e limitando a sua participação ativa nas atividades agrícolas em curso”. Face a este cenário, o “aumento do conflito e do deslocamento de pessoas poderá levar a um aumento ainda mais acentuado da insegurança alimentar”. De acordo com os últimos dados oficiais do INGD – Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, “mais de 126.000 pessoas já foram afetadas, juntamente com a destruição de mais de 5.700 casas, 543 salas de aula, 30 unidades de saúde, 45 estradas e a inundação de mais de 37.900 hectares de terras agrícolas”.