A partir do momento em que cada um começou a trabalhar, a nossa equipa foi sensibilizando para a necessidade de criarem uma poupança (por pequena que seja), dando a conhecer os diversos fatores que influenciam o custo de vida em Portugal e o seu valor médio – só assim, é possível desenvolver um espírito crítico e responsável, que promova uma decisão livre e consciente. Ainda assim, estes cidadãos que são recém-contribuintes terão capacidade para alugar uma casa ou um quarto?
A primeira dificuldade é criada pelas entidades públicas responsáveis, nomeadamente a validação atempada da documentação pessoal por parte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que lhes permite apresentarem–se de forma legal perante as entidades empregadoras e os senhorios. Em seguida, vem a capacidade financeira. Atualmente o valor das rendas é muito elevado, provocado pela forte procura e escassa oferta, com a agravante de os senhorios imporem condições extremamente exigentes, como cauções, adiantamento de vários meses e comprovativos de IRS. Existe ainda o desafio de ultrapassar barreiras impostas por preconceitos sociais na hora dos senhorios aceitarem ter como inquilino um “refugiado”.
Todos estes constrangimentos dificultam o caminho da autonomia pessoal. Desde a sua chegada, todos agarraram a oportunidade concedida e fizeram a sua parte. Esforçam-se por aprender a língua portuguesa, adaptaram-se aos costumes e tradições do país, contribuem para a economia com o seu trabalho e pagam os impostos associados. Mesmo assim, parece que ainda não chega…
É difícil superar barreiras impostas pelos “outros”, e não depender do sucesso pessoal, da própria capacidade em se adaptar e ultrapassar cada objetivo. O caminho é árduo, mas a Fundação Allamano continuará a caminhar lado a lado, apoiando-os diariamente, lutando pelos seus direitos, garantindo um tratamento social justo, promovendo a inclusão e o direito a ser feliz!
Texto: José Miranda e Ana Correia, membros da direção da Fundação Allamano