António Gaspar, sacerdote missionário da Consolata, concluiu os 87 anos da sua peregrinação terrena no passado dia 23 de novembro, depois de ter semeado abundantemente três preciosas e frutuosas sementes: a alegria, a fraternidade e a oração. António Gaspar nasceu a 21 de janeiro de 1934 no Arrabal, em Leiria. Em 1946 entrou para o seminário dos Missionários da Consolata em Fátima, e, em 1959, foi ordenado sacerdote em Turim, Itália.
Entre 1960 e 1975, trabalhou em Moçambique, especialmente entre os jovens. Destinado a Portugal, os jovens continuaram a ser o seu especial campo de ação, como animador e formador. A partir de 2006 passou
a dedicar-se, especialmente, aos mais idosos e afadigados – primeiro entre os missionários seus colegas, e depois nas paróquias de Alqueidão e Lavos. Amava o seu sacerdócio e amava, especialmente, o povo ao serviço do qual nunca se poupou a canseiras.
Darci Vilarinho, sacerdote, confrade e confidente de António Gaspar, recorda-o com saudade. “De temperamento alegre, expansivo e brincalhão, era alguém sempre muito próximo das pessoas, cativando-as a todas, fossem elas crianças, adultos ou idosos”, lembra. O mesmo atestam os fiéis de Alqueidão que em 2016 lhe dedicaram uma placa declarando-o “Alqueidanense não de sempre, mas para sempre”, não hesitando em afirmar que tinha sido Deus a enviar-lhes aquele sacerdote. O padre Gaspar era, de facto, um homem de Deus. É ainda o padre Darci quem afirma – “Quantas e quantas vezes o encontrei sozinho na capela, em adoração, sobretudo neste tempo da pandemia”.
Preparava bem as suas homilias e, ao pronunciá-las, dava largas ao coração. As pessoas ao ouvi-lo ficavam encantadas, não só com o que ele dizia mas com o seu estilo, com o que se lhe lia na expressão dos olhos, da boca e nos gestos. A sua ânsia de se fazer compreender pelos ouvintes recebeu uma bela resposta quando, um dia, uma senhora o tranquilizou –“Olhe, senhor padre, não se preocupe. Para nós, mais do que o que o senhor nos diz, o que conta é a maneira como o diz. O amor com que o diz!”
Dos esquemas de homilia encontrados entre os seus poucos haveres destacamos um, que guiou a sua partilha com os fiéis a 8 de outubro, um mês e meio antes de falecer. Nos seus apontamentos pode ler-se – “A oração é a força do homem e a fraqueza de Deus: ‘Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá’; Aprende-se a rezar, rezando; Porque não, entrarmos numa igreja, sentarmo-nos num banco, olharmos para o sacrário, sem nada dizer, e pensarmos: ‘Ele está ali porque me ama e eu estou aqui sentado porque O amo!’” Pensamentos simples, enternecedores e cheios de sabedoria! Um tumor no fígado causou-lhe grandes sofrimentos durante o último mês de vida, mas ele, com a sua alegre simplicidade, dizia apenas – “Seja o que Deus quiser”! No céu o temos como nosso exemplo e protetor.
Texto: Tobias Oliveira