“À ida, vão a chorar, lançando as sementes; à volta, vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas” – Lemos estas palavras na última quadra do Salmo Responsorial 126 (125), um cântico da restauração, que nos faz recordar um tema tão antigo, mas, contudo, tão recente – o drama dos refugiados e dos exilados. Ao escutarmos os versos deste cântico, assola-nos a presente crise dos refugiados da Ucrânia, devido à atual guerra naquela parte do mundo.
Aqueles que partem levam as “sementes”, a expectativa de um fruto que possa brotar no meio das adversidades. No regresso, trazem “os molhos de espigas”, o fruto do labor e do trabalho diário, necessário para que a semente possa despontar e frutificar. Sementes que tantas vezes foram regadas com as lágrimas da dor e da saudade, mas, por vezes, tão necessárias, para que se possa colher com alegria, os frutos da paz e da abundância. Por sua vez, “os molhos de espigas”, conduzem–nos ao pão que estes grãos, junto com outros ingredientes, podem ajudar a produzir, transformando-se, assim, em alimento. O alimento que fortalece e ajuda a manter a vida, que dá força e ânimo para reconstruir uma pátria devastada e destruída.
Um destes outros ingredientes é o trabalho missionário e voluntário que todos e cada um de nós, jovens e menos jovens, pode oferecer em prol daqueles que tiveram de deixar o seu país. Os missionários e voluntários são aqueles que ajudam a tornar menos amargas as lágrimas da dor da partida, e sabem acolher de coração os necessitados. Os missionários e voluntários são aqueles que levam um pouco de alento e alimento àqueles que tudo perderam e nada têm, a não ser, muitas vezes, a roupa que trazem no corpo, ou quando muito, uma pequena mochila.
Ainda que a reflexão possa parecer inapropriada, a divagação a que nos permitimos foi no sentido de como seria a alegria de um regresso à pátria, depois de termos sido forçados a abandoná-la. São inúmeras as razões que levam alguém a partir da sua terra natal, a deixar para trás família, amigos e lar, em busca de um pouco de paz e de melhores condições de vida. Compreendemos que este será sempre um momento de dor, um afastamento físico de tudo o que mais gostamos e amamos, de tudo o que ajudámos a construir. Não será fácil. A partida é sempre um momento de dor e angústia.
Torna-se, assim, necessário que os nossos corações e nosso espírito estejam com aqueles que necessitam de ajuda e orações. Compreendemos que é impossível estarmos todos atuantes no terreno. Contudo, podemos estar sempre presentes em oração, ou ajudando de outras formas, tais como angariando e canalizando para o terreno os meios de subsistência necessários àqueles que tudo perderam e nada têm, nem sequer um teto onde se abrigarem.
Cabe a cada um de nós agir no sentido em que nos exorta o Papa Francisco, na sua mensagem para a 36ª Jornada Mundial da Juventude, ou seja, temos o dever moral de defender a “justiça social, a verdade e a retidão, os direitos humanos, os perseguidos, os pobres e vulneráveis, aqueles que não têm voz na sociedade, os imigrantes”, pois é a única forma que possuímos para que as “existências fracassadas” possam “ser reconstruídas, as pessoas já mortas no espírito possam ressuscitar, as pessoas escravizadas possam voltar a ser livres, e os corações oprimidos pela tristeza possam reencontrar a esperança”.
Texto: Paulo Jorge Barroso