Ao longo de 11 anos, Helmer Charris foi médico, coordenador adjunto de projetos e consultor médico na organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). O profissional esteve presente em várias respostas de emergência, em países como a Serra Leoa, México, Iémen e Sudão do Sul. O médico passou também pela Etiópia, onde se deparou com os efeitos do conflito em conflito em Tigré.
Mais recentemente, o profissional esteve em trabalho no Panamá. Entre dezembro de 2021 e março de 2022, o médico deparou-se, naquele país da América Central, com o fluxo de migrantes que atravessa a floresta de Daríen, a fronteira que separa o Panamá da Colômbia. “Além das dificuldades de viajar por uma floresta tropical, os migrantes são frequentemente atacados por gangues criminosos e violentos. Frequentemente, os gangues roubam, atacam, aterrorizam e exercem violência sexual sobre as mulheres”, disse Helmer Charris, citado pelos serviços de comunicação dos Médicos Sem Fronteiras, fazendo depois referência a outro drama.
“Um problema que tivemos de enfrentar foi o facto das mulheres agredidas levarem muito tempo para chegar (ao centro de receção migratória) San Vicente, de Canán Membrillo. Devido à sua chegada tardia não podíamos fornecer-lhes a profilaxia necessária após a violência sexual sofrida”, lamentou o médico.
Apelo à criação de rotas seguras
A atual nacionalidade dos migrantes mudou em relação ao ano anterior. Segundo o médico, “antes, os haitianos constituíam o maior grupo, mas agora mais de metade são venezuelanos”. “Muitos deles já se tinham estabelecido na Colômbia ou no Peru e planeavam fazer a viagem para o norte por algum tempo. Havia muitas famílias, e esse continua a ser o caso, embora em menor grau. Vemos ainda famílias vindas dos Camarões, Congo e Senegal, de África”, conta. “Além da brutalidade e da violência sexual, há sempre um grande impacto quando se ouve falar sobre as pessoas mortas na estrada”, conta o médico, dando depois a conhecer um caso com que se deparou.
“Conheci um menino angolano de 17 anos, cuja família está dispersa: alguns já estão na fronteira com a Costa Rica, o seu pai está em Canán Membrillo, o seu irmão mais novo afogou-se num rio e um dos seus outros dois irmãos morreu, seja por desidratação ou fome, porque tudo o que tinham com eles tinha sido roubado. Histórias como esta afetam realmente as equipas emocionalmente”, disse o profissional, apontando depois para um horizonte de esperança. “Eles também falam muito sobre como somos necessários e, especificamente, sobre a necessidade dos nossos apelos para que essas pessoas sejam protegidas. Pedem a criação de rotas seguras, independentemente de passarem ou não pela floresta de Daríen”, sublinha Helmer Charris.
Texto: Juliana Batista