“Free Ukraine, Free the World”, uma iniciativa da Impossible – Passionate Happenings (https://www.impossible.pt/), nasce nos dias a seguir ao início da invasão militar russa da Ucrânia (24 fevereiro), mas só muito recentemente a sua produção (áudio e videoclipe oficial) ficou concluída, tendo tido a generosa colaboração de diversas pessoas de grande talento, e o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, da Agência Lusa, da Sumo Portugal e da Escola de Dança Ana Mangericão (EDAM).
Vídeo oficial: https://youtu.be/x15dlicu_Mo
A canção rema num sentido totalmente oposto ao do conversado e anunciado investimento na segurança dos Estados, pela via das armas. Apela ao fim de todas as guerras e ao desarmamento de cada ser humano, pois a guerra emerge das pedras de arremesso com que habitualmente as pessoas vivem a sua relação com o mundo e com os outros.
Assim, numa altura em que as reações ao conflito na Ucrânia deixaram de se ouvir e de se ver, e o apoio à Ucrânia parece nunca bastar e fracassar, “Free Ukraine, Free the World” eleva-se por entre uma impotente habituação e rotina, marcadas por uma preocupante inflação e galopante perda do poder de compra de milhões de pessoas, em todo o mundo, como um grito que teima em fazer escoar por todo o universo, que a segurança de cada um depende precisamente de uma corajosa relação de cooperação com todos os povos, despida de todo o tipo de “centrismo” e armamento.
Como “reação fora do tempo” ou “voz que brada no deserto do atual ‘zombismo’ ”, Free Ukraine, Free the World teve apresentação presencial no Fórum FNAC do Chiado, no dia 23 de julho, às 17h, precisamente numa altura em que a guerra fez 5 meses (24 julho), e contou com a participação de pessoas convidadas, nomeadamente refugiados da Ucrânia, do Afeganistão, Iraque, e de pessoas que se envolveram com a sua produção. Este projeto-canção teve ainda lançamento nacional no dia 25 de julho, no programa “Conselho de Guerra” da rádio TSF (9h30).
Júlia está em Lisboa há muito pouco tempo. Estudou psicologia, mas com a invasão russa, em 2014, da região de Donbass, de onde é oriunda, não conseguiu terminar o último ano do curso. Nas ruas da sua terra, milícias russas defendiam, já naquela altura, que a sua missão era a de defender o povo ucraniano de um governo fascista. As pessoas foram-se fechando cada vez mais em suas casas e as ruas foram ficando desertas. Entretanto, Júlia teve de encontrar trabalho, e o que conseguiu não tinha qualquer relação com a sua formação académica. Com o rebentar da guerra, em fevereiro de 2022, viu-se obrigada a deixar o seu país, sem que a sua família o soubesse. Passou pela Turquia e só depois, aconselhada por amigos brasileiros, conseguiu viajar até Lisboa. Aqui, procura agora desenvolver um negócio de vendas online.
Ustad Fazel é músico afegão. Com o regresso dos Taliban ao poder, a academia, onde era professor de música de raparigas, foi obrigada a fechar. Tentou abandonar o país, com destino à França, mas não conseguiu. Encontrou trabalho no restaurante de um amigo, mas nunca desistiu de pedir ajuda porque, na sua cabeça, era claro que tinha de deixar o Afeganistão. Ajudado por uma academia de música, viajou com músicos e estudantes de música até ao Catar e só depois teve Portugal por destino. Vive no Centro Português para os Refugiados (CPR), tem feito amizade entre uma comunidade de músicos em crescendo, e já começou a tocar em orquestras.
Olena via da sua janela os helicópteros e paraquedistas russos. Com o rebentar das bombas, tudo era tão real e aterrorizador. Ao fugir da sua terra, juntamente com centenas de outras pessoas, numa coluna de carros, viu serem assassinadas tantas pessoas, entre elas crianças.
Só pela força da solidariedade este esforço se tornou possível, e só através dela se poderão ainda cumprir os propósitos inicialmente traçados. Ouvida por muitos e em muitos lugares, pela força de quem se envolver com a sua difusão, a canção poderá vir ainda a reverter a favor de crianças desacompanhadas que chegaram a Portugal ou da gestão/reconstrução de espaços de apoio aos idosos e crianças na Ucrânia, se, entretanto, outros apoios forem conseguidos.