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De catástrofe em catástrofe, vamos aceitando as consequências das mudanças climáticas como uma inevitabilidade. Todos os dias vamos ouvindo recomendações das autoridades públicas acerca da necessidade de evitarmos comportamentos de risco, como se tudo dependesse disso. Num contexto em que se acentua a responsabilização individual dos cidadãos, é preciso chamar a atenção para o facto de os impactos das mudanças climáticas só poderem ser enfrentados com medidas nacionais e internacionais de longo prazo e, por isso, com consensos políticos essenciais.

Se, para alguns, as mudanças climáticas são uma hipótese ainda por provar, o mesmo já não se poderá dizer dos períodos de seca cada vez mais recorrentes, da violência das tempestades, das consequências dos incêndios florestais, da desertificação, da escassez de água potável, do aumento das temperaturas ou da extinção das espécies. De acordo com o relatório da Organização Meteorológica Mundial sobre o estado do clima, publicado em maio, os últimos sete anos no mundo têm sido os mais quentes de que há registo e as emissões de gases com efeito de estufa terão efeitos inevitáveis para as gerações futuras.

Também o mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, das Nações Unidas, publicado em março, salienta a necessidade de travar o aumento das emissões de gases com efeito de estufa na atmosfera, já em 2025. O relatório conclui que 1) os impactos climáticos já são mais generalizados e severos do que o inicialmente esperado; 2) que, independentemente do que façamos, até 2040, assistiremos a impactos inevitáveis muito significativos no clima; 3) que alguns impactos podem tornar-se irreversíveis; 4) que as mudanças climáticas vão aumentar a desigualdade, os conflitos e os desafios de desenvolvimento em todo o mundo; 5) que as comunidades mais vulneráveis vão precisar de uma ajuda particular; 6) e, finalmente, que a humanidade, para além das medidas preventivas vai ter de adotar medidas defensivas para as alterações que já não conseguirá travar.

O que têm feito os governos?
Dizem todos os relatórios que as alterações do comportamento humano são imprescindíveis. No entanto, eles salientam que essas mudanças têm de estar suportadas por medidas de médio e longo prazo que, pela sua natureza, exigem consensos políticos mais alargados.

No caso português, por exemplo, pedir que se limpe a floresta, quando o interior está despovoado, quando as populações locais não têm meios para o fazerem é esquecer a responsabilidade dos governos em realizarem políticas de emparcelamento e ordenamento dos terrenos florestais e que tornem a sua gestão sustentável. Insistir nas responsabilidades individuais de cada cidadão na prevenção dos incêndios florestais ou no investimento em meios de combate aos incêndios é, por certo, importante e necessário. Porém, isso não pode funcionar como uma forma de fazer esquecer ou de desviar as atenções sobre as responsabilidades dos governos nessa causa comum que é a liderança e a prevenção dos efeitos climáticos. Sobre isso, a pergunta que se coloca é: o que têm feito e o que pretendem fazer os partidos políticos e os governos sobre esta questão?

Texto: Carlos Camponez