As grandes proporções do fenómeno migratório e a multiculturalidade daí resultante conduziram o mundo do terceiro milénio a novos desafios no que diz respeito à urgência da construção de pontes e do derrube de fronteiras que impeçam a fraternidade. A questão essencial com que nos deparamos é o “como”: aprender como viver juntos, como respeitar o outro, como dialogar com o diferente e como escutar o seu coração. É-nos exigido um esforço de atenção em três blocos prioritários de diálogo, que se apresentam com ramificações e matizes enriquecedoras: com as religiões, com os indiferentes e com a cultura.
No encontro com a imensa variedade de religiões, deve adotar-se sempre “a cultura do diálogo como caminho; a colaboração como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério”, refere o Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti (FT). Tal cultura do diálogo deve ser feita na “sinceridade de coração”, na “coragem da diferença” e na “preservação da identidade” sem ambições – mais ou menos veladas – de converter o outro e sem se cair na cilada do sincretismo imaturo. Relativamente ao diálogo com os indiferentes, requer-se uma abordagem antropológica, lavrando o solo da dimensão pré-religiosa da nossa humanidade, aquele terreno prévio a qualquer nomenclatura religiosa, onde o ser humano se depara com elementos primordiais e comuns, tais como sofrimento, sentido da existência, traição, sede de amor. Finalmente, a valorização da cultura e das suas diversas manifestações apresenta-se como um manancial de interioridade e um apelo à busca de novas linguagens, procurando os sinais de transcendência aí ocultos.
São estas as linhas de força que nos impulsionaram à realização de um congresso missionário com o tema genérico de “Fraternidade sem fronteiras”, a realizar nos próximos dias 14 e 15 de outubro, no auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa. Em tal evento, gostaríamos de tomar a Declaração de Abu Dhabi como ponto de partida, peregrinando pela fraternidade na cultura do diálogo, na política, na economia, no modelo social, na missão, no diálogo intercultural e inter-religioso, e desaguando no papel da fraternidade na reconstrução da esperança, perspetivando a fraternidade sem fronteiras, numa série de seis conferências individuais e dois painéis inter-religiosos.
O verdadeiro encontro e o diálogo genuíno entre culturas e religiões têm como esteira comum o encontro e o diálogo entre pessoas concretas. Alimentados por esta convicção, desejamos alentar-nos mutuamente a aprofundarmos o nosso conhecimento mútuo e a nossa relação, em vista a uma colaboração fraterna entre diferentes, acreditando que “é juntos que se constroem os sonhos”, como refere a FT.
Texto: Adelino Ascenso, da Comissão Executiva do Congresso Fraternidade sem Fronteiras