O projeto “De alma… e coração!”, promovido pela Fundação Allamano, uma instituição dos Missionários da Consolata dedicada ao acolhimento de refugiados em Portugal, terminou no passado mês de outubro. Foram mais de dois anos intensos, desde os primeiros contactos com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), à discussão de ideias e estratégias, à preparação dos espaços… Em certa medida, o tempo de pandemia permitiu pensar e fazer tudo com calma, apesar da ansiedade crescente provocada pelo adiamento da chegada dos primeiros jovens refugiados.
Na visita ao Centro de Acolhimento Temporário de Lisboa – parceria entre o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) e a câmara municipal – foi possível perceber que as instalações dos Missionários da Consolata em Águas Santas eram fantásticas. Os encontros preparatórios com os técnicos do ACM vieram reforçar que as condições que se podiam oferecer e o projeto que se estava a desenhar eram excelentes, pois agregavam valências não previstas no protocolo, nomeadamente na área da saúde, alimentação e empregabilidade.
Após a chegada dos jovens refugiados foi possível encontrar, no olhar de cada um, dor e sofrimento, mas também satisfação pela chegada, e a esperança numa vida melhor. Eram humildes, de trato fácil, disponíveis para colaborar no processo, e rapidamente se construiu um clima de paz, tranquilidade e confiança, que serviram de base para o caminho a fazer. O futebol era o momento em que nos juntávamos para extravasar a tensão própria da vida e divertirmo-nos. Não interessava muito quem jogava melhor ou pior. Às vezes, discutia-se uma falta ou um canto em duas ou três línguas diferentes e riamo-nos muito!
Cada vez que íamos ao aeroporto acolher mais jovens refugiados, a satisfação aumentava, pois, era como juntar outros à festa – o convívio da vida! Nas noites após a recolha de alimentos, levava-lhes alguma fruta e comida fresca. Todos me saudavam com entusiasmo e, depois de alguma insistência, sentei-me algumas vezes com eles, partilhando do seu jantar, ou provando as iguarias africanas ou asiáticas. A minha satisfação plena aconteceu no dia em que cada um começou a trabalhar. “Pronto, este já está encaminhado”, dizia para mim, na expectativa de que, a partir daquele momento, iniciasse a oportunidade financeira necessária à sua autonomia.
São imensas as boas recordações que contribuíram para o meu crescimento e enriquecimento pessoal. Claro que também tive algumas discussões, mas sempre na base do respeito e com vista à melhoria da sua integração e autonomia. Lamento que as instituições públicas não tenham colaborado ativamente na mesma medida, apesar do esforço e empenho da equipa técnica, constituída, entre outros, por Ana Correia, assistente social, Jacinto Mota, gestor dos espaços, e Mónica Abrantes, no apoio aos serviços gerais. Foram eles os grandes protagonistas deste projeto, com o apoio e orientação de um conselho de administração motivador e colaborante em todos os momentos. O fim deste projeto não decorreu como tínhamos programado, mas valeu a pena, porque tudo faz parte da missão que Deus nos confiou, através da Fundação Allamano.
Texto: José Miranda