A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel socioeconómico-cultural na principal potência mundial.
Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, sendo que só no estado mais populoso do país, a Califórnia, residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, que trabalham por conta de outrem, na indústria. Embora, sejam muitos, os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas.
No seio das numerosas comunidades luso-americanas da Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos EUA, proliferam dezenas de associações recreativas e culturais, meios de comunicação social, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais, sociedades de beneficência e religiosas. E inclusive, um espaço museológico que homenageia e perpetua a herança cultural portuguesa na Califórnia, mormente, o Museu Histórico de São José, que alberga desde os anos 90 um conjunto de várias exposições que perpassam a história da emigração lusa para a Costa Oeste dos Estados Unidos da América.
Este notável dinamismo foi o leitmotiv que impulsionou a recente visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aos principais centros da emigração portuguesa na Califórnia, um itinerário que incluiu deslocações a San Diego, Artesia (perto de Los Angeles), São José e São Francisco, e passagens pelas comunidades do vale central em Turlock e Gustine.
Ao longo da visita de cinco dias a uma das maiores comunidades portuguesas no estrangeiro, o Chefe de Estado conviveu com as forças vivas das comunidades luso-americanas da Costa Oeste, conheceu o seu profundo apego à pátria de Camões, os seus projetos, os seus anseios e as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças ao trabalho, ao mérito e ao empenho. Verdadeiros self-made man, como o comendador Manuel Bettencourt, um reputado dentista que tem empreendido relevantes contributos em prol da comunidade luso-americana; o comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica; o comendador Batista Sequeira Vieira, uma das figuras mais proeminentes da comunidade portuguesa nos EUA; ou o dirigente associativo, criador de gado e produtor de leite no Vale de São Joaquim, João Borges Pires, que foi distinguido pelo mais alto magistrado da Nação com a comenda da Ordem do Mérito, durante um encontro no salão português de Gustine.
Estes são apenas alguns, dos vários “portugueses que conquistaram a Califórnia”, na esteira conselheiro das comunidades, produtor e realizador luso-americano Nelson Ponta-Garça, que ao longo dos últimos anos tem procurado documentar a história e o legado da comunidade portuguesa na Califórnia.
Estes são alguns dos fautores do notável dinamismo das numerosas comunidades luso-americanas da Califórnia, que constitui também o leitmotiv para a apresentação no próximo ano, entre 31 de março e 7 de abril, na Califórnia, do livro “Crónicas – Comunidades, Emigração e Lusofonia”. Uma obra que reúne as crónicas que o historiador Daniel Bastos tem escrito nos últimos anos na imprensa de língua portuguesa no mundo, e onde o autor revela o empreendedorismo, as contrariedades, a resiliência e a solidariedade das comunidades portuguesas, a riqueza do seu movimento associativo, e as enormes potencialidades culturais, económicas e políticas que as mesmas representam nas pátrias de acolhimento e de origem. Como é o caso da comunidade lusa na Califórnia, a mais numerosa das comunidades portuguesas nos EUA e uma das maiores comunidades portuguesas no estrangeiro.
Um livro, que nas palavras de Luís Marques Mendes, conhecido advogado e comentador que assina o prefácio da obra, é “o espelho da homenagem que Daniel Bastos quer prestar aos milhões de portugueses que, fora do nosso país, honram, servem e prestigiam Portugal. E fá-lo como deve ser: com simplicidade e com verdade, com entusiasmo e com realismo, com autenticidade e com pragmatismo, com respeito pelo passado mas sem descurar a ambição do futuro”.