Covid-19, alterações climáticas, conflitos armados, a guerra na Ucrânia e o aumento dos preços dos cereais e fertilizantes criaram um contexto sombrio sobre a situação da fome. No último ano, o número de famintos em todo mundo cresceu mais 17 milhões, revelou, em outubro, a organização não governamental (ONG) alemã de ajuda mundial contra a fome, Welthungerhilfe. De acordo com aquela organização, que publica anualmente um Índice Global da Fome, entre 2021 e 2022, o número de famintos aumentou de 811 milhões para 828 milhões e a tendência é para a situação se agravar ainda mais nos próximos anos.
“A guerra na Ucrânia aumentou ainda mais os preços globais de alimentos, dos combustíveis e dos fertilizantes e tem potencial para contribuir para a escassez de alimentos”, não só em 2023 como nos anos seguintes, alerta a Welthungerhil. Segundo o estudo, os progressos alcançados nos últimos anos no combate à fome no mundo praticamente estagnaram. Referindo-se a um dos indicadores do Índice Global da Fome, o estudo refere que o número de pessoas desnutridas em todo o mundo diminuiu entre 2000 e 2017, sofrendo, depois, um aumento, numa primeira fase, e um crescimento considerado “agudo”, nos últimos anos.
Estes resultados, segundo a Welthungerhilfe, podem pôr em causa os objetivos das Nações Unidas de erradicar a fome no planeta em 2030. Com base nas projeções atuais, o Índice Global da Fome estima que, pelo menos, 46 países não conseguirão alcançar esses objetivos daqui a oito anos.
As regiões do sul asiático e de África a sul do Saara são as que se encontram em pior situação. Nesta última região, registam-se os níveis de desnutrição e as taxas de mortalidade infantil mais elevadas de todo o planeta. O estudo recorda também que a fome está a ser fomentada pelos conflitos regionais que afetam o Burkina Faso, Camarões, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Etiópia, Mali, Níger, Nigéria, Ruanda, Somália, Sudão do Sul e Uganda.
Crescimento preocupante
Países como a Etiópia, Quénia e Somália estão a passar pela seca mais severa dos últimos 40 anos. Depois de uma severa escassez de água nas últimas quatro estações de chuva, prevê-se que a situação perdure até, pelo menos, o final deste ano. Este facto fez com que as organizações internacionais considerassem que, só nestes três países, 18,4 milhões de pessoas estejam numa situação de insegurança alimentar aguda. Esta zona do mundo é muito vulnerável às mudanças climáticas, uma vez que se trata de uma região com altas taxas de pobreza e onde as populações estão muito dependentes dos recursos naturais, como agricultura, a pesca e a pastorícia.
América Latina e Caribe
Sobre a América Latina e Caribe, o estudo refere que, ainda que se trate de uma região onde os índices da fome estejam relativamente baixos, os números têm progredido de uma forma considerada preocupante e continuada, desde 2014.
Texto: Carlos Camponez