Depois da repressão nas ruas e as detenções nas prisões, a justiça iraniana está a condenar à pena de morte os manifestantes que, desde 16 de setembro, protestam contra o regime. As manifestações surgiram na sequência da morte de uma jovem de 22 anos, Mahsa Amini, após ter sido detida e espancada pela polícia dos costumes, por não ter colocado o hijab, o véu islâmico, de acordo com o código de vestimenta imposto pelas autoridades às mulheres iranianas.
Entre 13 e 16 de novembro, cinco condenações à pena capital foram proferidas pelos tribunais iranianos. Segundo a Organização Não Governamental sediada em Oslo, na Noruega, a Iran Human Rights (Irão Direitos Humanos), 342 pessoas morreram e 15 mil foram detidas, depois de mês e meio de tumultos.
Nas últimas três décadas, o Irão conheceu três grandes movimentos de contestação: a revolta dos estudantes de 1999; as manifestações que se seguiram às eleições presidenciais de 2009; e os protestos que se seguiram à subida dos preços dos combustíveis, em 2019. No entanto, os especialistas sobre os assuntos iranianos salientam que, se nestes casos as manifestações acabaram por se transformar em movimentos em defesa de reformas do regime, agora, os manifestantes já estão a pedir o fim do regime.
Um regime, uma guarda
As tensões no Irão acumularam-se depois do presidente Ebrahim Raisi, eleito em 2021, ter decidido rever a forma como as normas sobre o uso do hijab estavam a ser aplicadas. Em julho, decidiu aplicar um plano denominado “estratégia para espalhar a cultura da castidade”, levando a que inúmeras mulheres fossem detidas. A aplicação do código foi sendo endurecida pela polícia dos costumes, a mesma que interpelou, deteve e espancou Mahsa Amini, uma jovem curda que se passeava com a família no Taleghani, um conhecido parque verde da capital de Teerão. As razões irrisórias que conduziram à morte de Amini transformaram-na num símbolo dos manifestantes que, ao gritarem nas ruas “Mulheres, vida, liberdade!”, desafiam a própria República Islâmica do Irão, por não reconhecer os direitos das mulheres, por valorizar o martírio e ser profundamente repressiva.
Apesar dos protestos de que tem sido alvo, o regime tem revelado uma particular capacidade de resistência. Ao contrário do que aconteceu em 1979, quando se deu a revolução que levou à queda do regime de Reza Pahlavi e conduziu o aiatola Khomeini ao poder, as forças armadas eram nacionais e estavam ao serviço do Irão. Com a criação dos Guardas da Revolução, o regime dotou-se de uma força de segurança cujo principal fim é garantir a continuidade da ideologia e do regime, dos quais ambos dependem.
Texto: Carlos Camponez