Cerca de 30 mil migrantes concentram-se todos os dias em Tapachula, no Sul do México, com o propósito de partirem dali rumo à fronteira Norte do país. “Há migrantes por todo o lado aqui, e vivem principalmente nas ruas. A maioria são haitianos e hondurenhos e, recentemente, o número de pessoas vindas da Venezuela aumentou significativamente. Geralmente, deslocam-se mais rapidamente em pequenas caravanas para evitarem detenções e deportações”, refere Miguel Gil, psicólogo da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que trabalha há dez anos com migrantes.
“Os principais sintomas que vemos são stress pós-traumático, depressão aguda e ansiedade. Alguns dos nossos pacientes não querem continuar a viver. Temos sobreviventes de violação, pacientes feridos com armas de fogo, alguns foram mutilados ou presenciaram o assassinato de familiares. Para dar conta da gravidade destes sintomas, posso dizer que, seguramente, nunca tinha atendido tantas pessoas com pensamentos suicidas como aqui. Só no mês de agosto tivemos três casos”, conta o profissional, citado pelos serviços de comunicação dos MSF.
Miguel Gil aponta para os motivos que levam estas pessoas a deixar as suas casas. “Infelizmente, as crises continuam, forçando as pessoas a partir das suas casas em busca de refúgio. A violência e a crueldade que vivem nos seus países e depois na jornada também continuam a existir. Ao longo dos anos, desde que temos este projeto de cuidados para migrantes no México, a situação não melhorou, só tem piorado. Os casos de pessoas sobreviventes de violência extrema e de tortura a quem prestamos assistência são apenas a ponta do icebergue”, lamenta o profissional.