Além de ciclones, chuvas intermitentes, fracasso das colheitas, e acesso limitado a cuidados de saúde, a desnutrição em Madagáscar está a atingir “novos máximos”, com as comunidades rurais do sudeste do país a viver uma “situação alarmante com o aumento da desnutrição”, referem os Médicos Sem Fronteiras (MSF), em comunicado.
“As pessoas no distrito de Ikongo debatem-se com uma grave falta de alimentos, após as colheitas terem sido danificadas pelos ciclones no último ano. Em janeiro de 2023, uma análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar revelou que mais de um quarto da população das regiões de Vatovavy-Fitovinany e de Atsimo-Atsinanana se encontra em situação de insegurança alimentar aguda. Em novembro de 2022, através de rastreios nutricionais, a [organização] Médicos Sem Fronteiras (MSF) apurou que quase uma em cinco crianças rastreadas estava moderada ou gravemente desnutrida, numa altura difícil em que as comunidades se preparam para a época magra – o período cíclico de escassez alimentar.”
Brian Willet, coordenador-geral dos MSF em Madagáscar, faz um retrato do drama vivido pelas famílias. “Muitos agregados familiares dizem-nos que, apesar de racionarem cuidadosamente, as provisões de comida estarão completamente esgotadas em fevereiro. Isto é preocupante, já que se espera uma produção agrícola fraca este ano, devido à falta de chuva no início da época. E se outro ciclone atingisse agora a região, transformaria esta situação já muito grave numa catástrofe de significativa escala.”
Neste momento, a organização “presta apoio em 29 instalações de saúde locais no distrito de Ikongo, fornecendo cuidados nutricionais, alimentos terapêuticos e formação a profissionais de saúde para diagnosticar e tratar a desnutrição. As equipas da [organização] MSF providenciam também cuidados de saúde primários a comunidades na área litoral de Nosy Varika e infraestruturas de água e saneamento na região de Androy”, adianta o organismo de ajuda humanitária.
No distrito de Ikongo, “um total de 2.072 crianças com menos de cinco anos estavam a receber tratamento para a desnutrição aguda grave, no início do mês de janeiro – e quase metade ingressou nos programas de nutrição da [organização] MSF. A falta de alimentos combinada com o pico da época da malária faz prever que este número aumente nos próximos meses”, alerta a organização.