Vivemos por estes dias um tempo de abertura ao outro. É a Quaresma. Altura em que os cristãos são chamados a estarem mais atentos a quem está próximo, na consciência de que deveria ser assim todos os dias da vida. Somos convidados a uma maior atitude de caridade e a praticar a esmola, renunciando a bens em prol do bem-estar do outro, e para suprir as necessidades daqueles que pouco ou nada têm.
Este é também um tempo de recolhimento. Somos convidados a uma maior introspeção, a olhar para o interior de nós próprios, com o sentido de uma conversão interior que nos abre para o acontecimento maior que é a Páscoa, e a consequente ressurreição de Cristo. A nós, cristãos, é-nos pedido um período de introspeção, para olhar para o sentido das nossas vidas, um tempo de maior oração e reconhecimento das nossas falhas, um momento de jejum e de abstinência, em que nos libertamos daquilo que é supérfluo, e em que renunciamos àquilo que talvez não seja assim tão essencial nas nossas vidas.
Mudanças diárias
Sabemos que não conseguimos ser assim todos os dias, mas adquiramos esta consciência durante este período quaresmal, para que depois o possamos reproduzir o resto do ano. Nesta Quaresma, saibamos ser este elemento de introspeção, de abertura, que se encaminha para nós próprios e também para os outros, para os sentidos de florescimento e renovação que é a Ressurreição de Cristo.
Uma festa na primavera
A festividade da Páscoa é celebrada na primavera, altura da recolha da cevada que já espiga nos campos, época em que a terra começa a dar os primeiros frutos. Ou seja, um momento de renascimento, de início de manifestação da fertilidade, de regeneração da natureza, onde o derreter das neves e as chuvas enchem os rios, símbolo de vida. É esta ‘fertilidade’ da cruz que celebramos no Domingo da Ressurreição – o florescimento e o renascimento de uma nova fé que conduz à vida eterna.
Curiosidades da época
Para os povos cristãos, a data da Páscoa é um feriado móvel, sendo prescrito que deverá ocorrer no primeiro domingo de lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério Norte, pelo que pode ocorrer no intervalo entre 22 de março e 25 de abril. Esta normalização ocorre, segundo grande parte dos historiadores, no século IV, nos concílios de Arles, em 314, mas principalmente no de Niceia, em 325. O período de preparação para a Páscoa é chamado de Quaresma ou período quaresmal.
A Quaresma é um tempo litúrgico de cerca de 40 dias que medeia entre a quarta-feira de cinzas e o início do tríduo pascal, que este ano se celebra entre os dias 6 e 8 de abril. Este período de cerca de 40 dias é meramente simbólico, no entanto, “exprime o tempo da expectativa, da purificação, do regresso ao Senhor e da consciência de que Deus é fiel às suas promessas”, conforme disse o recentemente falecido Papa Emérito Bento XVI, na audiência geral de quarta-feira de cinzas, em 2012.
Texto: Paulo Jorge Barroso