As pessoas rohingya que vivem no maior grupo de campos de refugiados do mundo, no distrito de Cox’s Bazar, no Bangladesh, “estão praticamente dependentes de forma absoluta da assistência alimentar providenciada”, refere a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), em comunicado. Apesar disso, foi neste contexto que ao apontar para a “falta de financiamento”, o Programa Alimentar Mundial “cortou, desde 1 de março, as rações entregues em 17 por cento, o que leva o número de calorias por pessoa para níveis abaixo dos padrões mínimos aceitáveis de 2100 calorias diárias”.
Foram feitos “cortes nas rações alimentares que são recebidas por cerca de um milhão de pessoas”, o que irá “aumentar os riscos de desnutrição”. A organização humanitária lembra que aquelas pessoas se encontram “confinadas aos campos e proibidas de encontrarem formalmente emprego, o que as impede de conseguirem complementar as escassas rações de comida – as quais estão já abaixo da ingestão calórica diária recomendada”. Os MSF consideram “preocupante que a redução nas rações alimentares também aumente a sensação de desespero que já prevalece nos campos e leve mais rohingya a fazerem jornadas muito perigosas por mar e por terra, em busca de uma vida melhor”.
Claudio Miglietta, representante da organização médico-humanitária no Bangladesh, explica o cenário no terreno. “Os MSF estão empenhados em prestar serviços à população rohingya enquanto for necessário, mas dar resposta a mais necessidades médicas nos campos de Cox’s Bazar está a superar as capacidades dos MSF. O financiamento caiu e o número de organizações de ajuda em Cox’s Bazar baixou em quase 80 por cento. Os doadores têm de voltar a dar prioridade aos rohingya e reafirmar os compromissos de financiamento”.
Perigo de futuros surtos de doenças Presentes em Cox’s Bazar há 31 anos, os MSF têm um grande conhecimento do terreno. No ano passado, as equipas dos MSF fizeram “mais de 750.000 consultas externas e admitiram mais de 22.000 pacientes para cuidados em regime de internamento”. Nesse ano, já “12 por cento das grávidas no hospital de Kutupalong e na clínica de Balukhali foram diagnosticadas com desnutrição aguda e 30 por cento com anemia”. A organização sublinha que “uma ingestão reduzida de calorias põe as pessoas em risco de desnutrição e de anemia e enfraquece o sistema imunitário, aumentando o perigo de futuros surtos de doenças infeciosas como o sarampo e a cólera”.
Texto: Juliana Batista