Há 60 anos, o Papa João XXIII escreveu a encíclica “Pacem in terris” (A paz na terra, em português), uma carta sobre “a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade”. O documento foi publicado a 11 de abril de 1963, dois anos depois da construção do Muro de Berlim e poucos meses após a crise dos mísseis de Cuba.
O bom Papa João, hoje são João XXIII, que tinha escolhido como lema papal “obediência e paz”, através desta carta encíclica, defende que “nada se perde com a paz, mas tudo pode ser perdido com a guerra”. Para ele, “os conflitos entre as nações devem ser resolvidos com negociações e confiança mútua, e não com as armas. A paz entre os povos exige: a verdade como fundamento, a justiça como norma, o amor como motor, a liberdade como clima”.
A encíclica “Pacem in terris”, dirigida a todas as pessoas de boa vontade, é muito atual. É considerada uma das mais famosas, e várias das suas ideias foram adotadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). O documento reflete sobre as relações entre os seres humanos e as comunidades políticas, com base em problemas como o das minorias, refugiados políticos, desarmamento e povos subdesenvolvidos. Analisa ainda as “relações dos indivíduos e das comunidades políticas com a comunidade mundial recomendando a instituição de uma autoridade pública universal e afirmando o princípio da subsidiariedade em que as pequenas comunidades possam exercer livremente as suas atribuições dentro da linha do bem comum”.
Infelizmente, os conflitos armados têm aumentado drasticamente no mundo. Muitos povos vivem em terror permanente e sob ameaça. Existe o medo e a corrida aos armamentos. Devemos recordar aos “senhores da guerra” a mensagem da “Pacem in terris” que refere que “as relações mútuas entre as comunidades políticas se devem reger pelo critério da liberdade. Isto quer dizer que nenhuma nação tem o direito de exercer qualquer opressão injusta sobre outras, nem de interferir indevidamente nos seus negócios”.
No fundo, a encíclica promove a consolidação da paz na terra que só pode ser alcançada através da colaboração de todas as “pessoas de boa vontade,” incluindo aquelas que defendem as ideologias e políticas erradas. As nossas relações e as relações mútuas entre os Estados devem basear-se na verdade e não no recurso à força das armas.