A África do Sul ocupa o terceiro lugar na lista das maiores reservas minerais de ouro do mundo, com 3.200 toneladas. Na África do Sul encontra-se a mina de ouro South Deep, da Gold Field, que é a maior instalação do seu género no mundo, com 32,8 milhões de onças de reservas minerais. O ouro é um dos principais contribuintes para a economia, representando oito por cento do PIB e dando emprego direto a cerca de meio milhão de pessoas. Na década de 1970, a África do Sul era o maior produtor de ouro do mundo, detendo mais de 75 por cento das reservas mundiais. Esta icónica indústria juntou migrantes de todo o mundo, construiu caminhos-de-ferro e estradas e fez do país um gigante económico africano. Hoje, passadas apenas quatro décadas, o panorama é desolador.
O brilho do ouro na África do Sul começou a desvanecer-se numa altura da história em que as nações ricas do Ocidente confiavam nas reservas de ouro para garantir o valor das suas moedas. O padrão-ouro para as moedas ocidentais antes da década de 1930 significava uma extração maciça de ouro a baixos preços na África do Sul. Nem todos os que estão no centro da produção de ouro na África do Sul parecem beneficiar do comércio desta comodidade rara. As greves dos trabalhadores são frequentes. Historicamente, muitos sul-africanos eram agricultores e não estavam interessados no trabalho pesado nas minas. Os métodos utilizados para os levar a tornarem-se trabalhadores conduziram a salários baixos e más condições de trabalho.
Platina
A África do Sul é o maior produtor de platina a nível mundial, sendo responsável por uma parte significativa da produção total de platina do mundo. Este metal é utilizado em várias aplicações industriais, nomeadamente em conversores catalíticos, joalharia e indústria química. As receitas geradas pela sua exportação desempenham um papel crucial nas receitas em divisas do país.
A indústria mineira da platina proporciona oportunidades de emprego a um número significativo de sul-africanos. Emprega diretamente milhares de trabalhadores em operações mineiras, centros de processamento e serviços associados. Além disso, a indústria cria emprego indireto através da sua cadeia de fornecimento e serviços de apoio.
O infame massacre de Marikana, nas minas de platina da Lonmin, é hoje sinónimo da indústria mineira na África do Sul. O incidente ocorreu durante uma greve laboral dos trabalhadores das minas que exigiam salários mais elevados e melhores condições de trabalho. Os trabalhadores em greve, principalmente filiados na Associação dos Sindicatos dos Mineiros e da Construção (AMCU), tinham estado envolvidos num tenso impasse com a direção da mina e as forças de segurança.
A 16 de agosto de 2012 eclodiram confrontos entre os mineiros em greve e o Serviço de Polícia Sul-Africano (SAPS). A polícia, armada, tentou dispersar os manifestantes. A situação agravou-se, resultando num confronto violento entre a polícia e os mineiros. Durante o confronto, a polícia abriu fogo contra os manifestantes, provocando a morte de 34 mineiros. Muitos outros ficaram feridos e o incidente chocou o país e atraiu a atenção internacional.
Condições em minas de ouro
As condições de trabalho nas minas de ouro são difíceis. Os mineiros trabalham longas horas, em espaços confinados e a temperaturas extremas. Enfrentam riscos para a saúde, que incluem problemas respiratórios, lesões e exposição a substâncias perigosas. O trabalho é exigente, envolvendo o levantamento de pesos, escavação e uso de máquinas. Os mineiros podem ter de trabalhar em minas subterrâneas profundas, percorrendo túneis estreitos com equipamento especializado. Os trabalhadores de baixo nível nas minas de ouro recebem salários baixos em comparação com os riscos e dificuldades. Os salários podem não proporcionar um nível de vida confortável, especialmente tendo em conta a natureza exigente do trabalho.
A indústria mineira do ouro pode ser volátil, com as flutuações do preço do ouro a afetarem a estabilidade do emprego. Os despedimentos e a insegurança são comuns, especialmente durante as recessões económicas ou quando as minas se tornam menos rentáveis. Muitos trabalhadores de baixo nível provêm de ambientes desfavorecidos e podem não ter acesso à educação e outras oportunidades. O trabalho pode constituir uma fonte de rendimento para as suas famílias, mas muitas vezes perpetua a pobreza.
O cobalto do Congo
A República Democrática do Congo (RDC) é o maior produtor mundial de cobalto, sendo responsável por mais de metade da produção global. O cobalto é um componente essencial do tratamento radioativo do cancro, dos implantes ortopédicos e dentários, do fabrico de produtos petrolíferos e plásticos, bem como das baterias de lítio que alimentam dispositivos portáteis. Embora o acesso a este mineral tenha tornado a vida moderna mais cómoda, há muitas vidas na RDC que o cobalto destruiu.
A sua extração tem merecido grande atenção devido a preocupações com as violações dos direitos humanos, trabalho infantil, impacto ambiental, condições de trabalho inseguras e práticas de exploração. Alguns relatórios destacaram casos de crianças com sete anos envolvidas na extração de cobalto, frequentemente expostas a substâncias perigosas e a trabalhar em ambientes insalubres. Uma parte significativa da extração de cobalto na RDC é realizada por mineiros artesanais e em pequenas explorações, que trabalham sobretudo em ambientes informais e não regulamentados. Estes mineiros trabalham com ferramentas e equipamento básicos, sem medidas de segurança e sem condições de trabalho adequadas.
Efeitos no ambiente
A extração de cobalto pode ter consequências ambientais graves. O processo de extração envolve frequentemente trabalho a céu aberto, o que conduz à desflorestação, erosão do solo e poluição da água. Além disso, o processamento do minério de cobalto gera quantidades significativas de resíduos e emissões. O cobalto extraído na RDC entra nas cadeias globais de abastecimento, o que torna difícil rastrear a sua origem e garantir um abastecimento responsável. As empresas que utilizam cobalto nos seus produtos estão cada vez sob maior pressão para garantir a transparência e evitar o abastecimento a partir de minas associadas a violações dos direitos humanos e a danos ambientais.
Algumas empresas e organizações tomaram medidas para promover o fornecimento responsável de cobalto da RDC. Isto inclui a implementação da devida atenção na cadeia de fornecimento, o envolvimento com as comunidades locais e o apoio a iniciativas para lidar com o trabalho infantil e melhorar as condições de trabalho. O governo da RDC introduziu regulamentações para melhorar as práticas de mineração e abordar as preocupações com os direitos humanos. Além disso, ações internacionais, como a Iniciativa Cobalto Responsável e a Iniciativa Transparência nas Indústrias de Extração, visam promover práticas sustentáveis e éticas na cadeia de fornecimento de cobalto. A Iniciativa Cobalto Responsável pretende fomentar a cooperação com o governo da RDC, a sociedade civil e as comunidades locais afetadas para estabelecer e apoiar ações que abordem os riscos e desafios na cadeia de abastecimento de cobalto.
Garantir que as comunidades mineiras beneficiem dos minerais requer uma abordagem abrangente e inclusiva que tenha em conta os aspetos económicos, sociais e ambientais. Uma das estratégias para promover os benefícios dos minerais para as comunidades mineiras indica que as empresas mineiras devem colaborar ativamente com as comunidades locais e envolvê-las nos processos de tomada de decisão, o que inclui consultar os membros da comunidade, abordar as suas preocupações e incorporar os seus contributos nos planos e iniciativas de exploração mineira. Os governos são chamados a implementar políticas e regulamentos que garantam uma partilha justa e transparente das receitas da mineração com as comunidades mineiras, o que pode ser feito através de mecanismos como ‘royalties’ comunitárias ou acordos de partilha de receitas, que proporcionem benefícios financeiros diretos às comunidades afetadas.
Texto: Frenny Jowi, jornalista e consultora de media