Natural da cidade italiana de Fossacesia, da região de Abruzzo, província de Chieti, Giulio Mencuccini fez a sua profissão perpétua em 1964, no Instituto dos Missionários dos Passionistas, também presente em Portugal. Dez anos depois, partia para a Indonésia, onde foi ordenado bispo a 3 de junho de 1990, em Sanggau. Segundo a agência Fides, foi o último bispo estrangeiro a trabalhar no país.
Durante os 48 anos de atividade missionária na Indonésia, Mencuccini nunca deixou de cultivar a sua paixão pelas motos, que usava nos curtos períodos de férias na sua terra natal. Foi lá que orientou uma corrida motard anual com centenas de motociclistas, de Fossacesia até Rosello, na região de Abruzzo. Também organizou passeios de motas até ao Santuário de Nossa Senhora das Dores, em Teramo, sensibilizando jovens motards sobre a solidariedade e ajuda prática às missões do Oriente. Dizia ele – “A missão é partir, é ir, é movimento, é ir ao encontro dos nossos vizinhos, ao encontro dos que esperam uma palavra e gesto de amor, uma mensagem de esperança para as suas vidas, com a alegria do evangelho de Cristo”.
Ao volante da sua moto, percorreu quilómetros e quilómetros pelas estradas duras e ríspidas de West Kalimantan. Visitou aldeias, celebrou a Eucaristia e outros sacramentos, catequizou crianças, jovens e adultos, e levou o evangelho a grupos indígenas que nunca ouviram falar de Jesus, com caravanas de ajuda humanitária. Também fez longas viagens para zonas remotas que raramente viram um sacerdote. Por esta razão, Mencuccini é conhecido também na Indonésia como ‘missionário motard’, meio de transporte com que se deslocou sempre pelas florestas de Borneo.
No verão de 2022, o bispo entregou, com alegria no seu coração, a liderança da diocese de Sanggau ao seu colega de congregação Valentinus Saeng, indonésio. O bispo terminou a sua atividade missionária e serviço pastoral na Indonésia com emoção e gratidão, país a que dedicou 48 anos da sua vida, incluindo 32 como bispo. Na despedida, disse aos seus fiéis e amigos – “Digo-vos ‘adeus’ com alegria no meu coração, deixo-vos em boas mãos. Estou feliz porque o Papa Francisco escolheu o meu sucessor, sendo agora o segundo bispo da nossa diocese”. Mencuccini vê a presença de um novo bispo nativo, de 54 anos, como “uma grande bênção para a diocese, apreciando, sobretudo, a forte paixão do seu sucessor pelos novos métodos de evangelização. Com a nomeação de Saeng, todas as dioceses da Indonésia são agora lideradas por bispos indonésios.
Entretanto, Mencuccini recorda com entusiasmo o tempo da sua missão nas terras do Borneo, que cumpriu com especial dinamismo e em contínuo movimento – “Sempre quis visitar várias vezes as aldeias da diocese e participar de corpo e alma nas festividades culturais e tradicionais dos diversos locais e tribos, para estar realmente com os fiéis. As caras deles, a sua simplicidade, a sua fé: todas estas belas memórias ficarão para sempre no meu coração. Eu disse aos fiéis que sempre os considerei e irei considerar como meus irmãos e irmãs na mesma fé.” Disse ainda o bispo – “Quando fui escolhido como bispo de Sanggu, escolhi como meu lema ‘Ser missionário missionando’. Num território tão densamente florestado, encontrei muitas dificuldades para alcançar as áreas mais remotas. Com o passar do tempo, dei-me conta de que o meu ministério podia ser também divertido e sempre surpreendente, nunca estático. Fiz muitas viagens de moto, sempre na companhia de jovens fiéis e amigos”.
Durante os seus 32 anos de missão como bispo, a população católica dos dois distritos civis de Sanggau e Sekadau, aumentou para cerca de 340 mil fiéis, numa população de 700 mil habitantes. Disse o bispo aos fiéis – “Agora, a missão é toda vossa. Estarei sempre convosco, com a minha amizade e oração.” Foram muitos, incluindo autoridades civis, aqueles que agradeceram o seu trabalho notável no desenvolvimento das comunidades locais, incluindo a construção de creches, escolas, centros sociais e para a juventude, em benefício da sociedade.
Texto: Álvaro Pacheco