Vários edifícios do Bairro do Zambujal vão receber pinturas de grande dimensão sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Maria Jesus Leal vive num edifício onde ficará patente a pintura alusiva ao ‘ODS 3 – Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades’. Maria tem 64 anos, nasceu em São Tomé e Príncipe, viveu em Angola e Cabo-Verde, mas está em Portugal desde criança. Trabalha em limpezas e vive no Bairro do Zambujal com a família há mais de 20 anos.
Na sua família há pessoas a precisar de ajuda na área da saúde?
Sim. O meu marido e a minha mãe têm diabetes. A minha mãe com 94 anos também tem algumas dores, especialmente na perna. O meu neto tem asma.
Quem ajuda a sua mãe?
Sou eu que faço tudo. Desde banhos às refeições. Não temos nenhuma cuidadora que tome conta dela. Toda a ajuda é dada pela família. Se não for eu, é o meu marido que vai a casa dela e lhe dá o pequeno-almoço, ou o meu outro filho mais velho que vive com ela.
Qual é um dos maiores obstáculos para o acesso à saúde?
A falta de informação que é muita. Só ficamos a saber de algumas coisas na missa. Acho que é preciso haver mais partilha de informação.
O seu ordenado chega para os medicamentos?
Nunca chega. Tentamos esticar o dinheiro para conseguir comprar. Os medicamentos são caros e não temos médico de família. A pensão da minha mãe não chega para comprar os medicamentos dela, por isso, quando é preciso, eu ajudo-a.
Há preocupação em reduzir os alimentos não saudáveis em sua casa?
Sim. Tentamos que haja um equilíbrio. O meu neto, se fosse por ele, comeria só coisas que fazem mal, mas não deixo.
Conhece alguém que sofra com questões de saúde mental?
Eu própria. Sinto-me com falta de memória e ando constantemente stressada. Tenho a minha mãe doente, em casa as pessoas precisam de mim e o trabalho deixa-me exausta. Levanto-me às 04h30 para entrar às 06h00 todos os dias. Não tenho descanso. Só durmo cinco horas. Ainda tenho de cuidar da casa. Não dá para ir de férias por causa da minha mãe.
Texto: Mário Linhares