Há uns anos, durante uma viagem de trabalho à Guiné, aceitei o convite para participar na missa dominical numa pequena cidade do interior, onde os horários eram ditados pela chuva e as deslocações pela quantidade de sulcos existentes nas estradas de terra batida. A igreja estava lotada. Ao colorido das vestes, juntava-se a alegria das vozes de um grupo de jovens, em cânticos ritmados pelo som dos tambores africanos. Um ambiente de festa, de proximidade e celebração, explorado de forma inspirada pelo sacerdote que presidiu à Eucaristia.
A meio da homilia, centrada no tema da união, o presbítero decidiu dar corpo às suas palavras e lançou um desafio inusitado à assembleia: “Cada um de vós saia à rua e regresse com um galho que encontre na floresta”. Em poucos minutos, estava criado um pequeno molho em frente ao altar, com galhos de vários tamanhos e feitios. A curiosidade dos fiéis seria desfeita logo a seguir. O padre pegou num galho e partiu-o ao meio. Depois, tentou, sem sucesso, fazer o mesmo com o molho, ilustrando, de forma simples, a fragilidade de uma pessoa isolada e a resistência que uma comunidade pode ter se for unida.
Hábil comunicador, na Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco não recorreu a galhos mas evocou as ondas gigantes da Nazaré, tão populares entre os jovens, para os convidar a serem “surfistas do amor”. Deu um sinal de proximidade, ao abençoar dezenas de crianças que, com os seus pais, o saudavam nas deslocações. E reforçou o seu desejo de igualdade, compaixão e inclusão, enquanto líder da Igreja Católica, ao reunir com vítimas de abusos, celebrar com reclusos e pessoas com deficiência, e reafirmar que “a Igreja é para todos, deve receber todos, deve falar e dialogar com todos”, pedindo, no final, que repetissem com ele: “Todos, todos, todos”. Três palavras simples, que fizeram títulos em jornais, revistas e telejornais, em Portugal e no estrangeiro.
Quando a Igreja continua à procura de melhorar a forma de comunicar, creio que estes são dois excelentes exemplos para reflexão. Como diz o Papa, na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’, “uma imagem fascinante faz com que se sinta a mensagem como algo familiar, próximo, possível, relacionado com a própria vida. Uma imagem apropriada pode levar a saborear a mensagem que se quer transmitir, desperta um desejo e motiva a vontade na direção do Evangelho”.