Um grupo de Antigos Alunos dos Seminários Portugueses (UASP) visitou Moçambique, de 3 a 20 de setembro, no âmbito de uma iniciativa que já conta com oito anos. A viagem levou-nos a visitar várias comunidades. Éramos 18 pessoas, incluindo o padre Simão Pedro, missionário da Consolata, e o padre Armindo Janeiro, vigário geral da diocese de Leiria-Fátima, e alma deste programa.
Nesta viagem, fomos acolhidos na diocese de Tete pelo bispo Diamantino Antunes, missionário da Consolata, que nos proporcionou um manancial de aprendizagem no contacto com diversos projetos, instituições e comunidades espalhadas pelo seu vastíssimo território. Foi uma verdadeira aventura e uma grande escola.
A alegria, a dança e a música que saíam de dentro das almas das pessoas, foram os ingredientes que adornaram as manifestações da fé e as celebrações em que participámos.
Vimos uma Igreja atuante civilmente na comunidade, através de escolas que iam do infantário à universidade, assim como maternidades, hospitais e outras respostas fundamentais à sociedade. Observámos muitas estruturas da Igreja reconstruídas ou em reconstrução, após a destruição provocada pela guerra civil. O bispo de Tete tem em todos estes processos uma imensa e notável obra feita. Deparámo-nos com a construção de novas igrejas, espaçosas, porque as comunidades fazem delas bom uso. Contemplámos igrejas cheias de pessoas e de alegria.
Em Inhambane, estivemos no local onde foram mortos os 24 mártires de Guiúa. Lá estão sepultados, numa altura em que decorre o seu processo de beatificação. Visitámos muitos projetos e instituições em Maputo, ligadas aos Salesianos, à Consolata, e a outras organizações e congregações. Estamos muito gratos ao bispo Diamantino Antunes, aos Missionários da Consolata, e ao padre Francisco, salesiano, que nos apoiaram totalmente.
Pudemos apreciar nesta viagem o grande papel que desempenham os catequistas na dinâmica das comunidades cristãs, contribuindo para as manter vivas no que respeita à fé e às celebrações. Se uma paróquia com mais de 100 comunidades, distantes e em lugares remotos, onde às vezes só se chega a pé ou de mota, com diferentes idiomas, só tem um padre, mesmo que este visitasse em cada fim de semana uma comunidade, levaria mais de dois anos a visitá-las todas. São estes catequistas que depois de receberem formação, fazem um papel equivalente aos diáconos permanentes, mas com responsabilidades ainda maiores.
A falta de liberdade religiosa, perseguição, dificuldades territoriais, constrangimentos de circulação, falta de padres e religiosos consagrados, a barreira das línguas autóctones, concorrência de outras confissões e a proliferação de seitas criaram, na Igreja de Moçambique novas necessidades, a que os fiéis responderam de forma heroica, estoica e criativa, acabando por aproximar a Igreja de hoje às suas origens. Esta é uma Igreja mais operativa e ministerial, e menos clerical e hierárquica. Talvez responda muito mais às propostas do Concílio Vaticano II, do que as Igrejas mais estabilizadas e, também, em alguns casos, ‘enquistadas’ do ocidente. Face à falta de presbíteros, algumas dioceses em Portugal terão de colocar os olhos nestas comunidades, para aprender sobre o seu provável futuro.
No seu famoso livro “Assim falava Zaratustra”, Friedrich Nietzsche escreveu – “Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar”. Se Nietzsche tivesse vindo connosco a África, seria compelido a ter de acreditar. De facto, em África, Deus sabe dançar! Deus dança, numa alegria interminável, genuína e pura, na oração, na entrega e na vivência da fé daqueles povos. Em África aprendemos que a alegria e a gratidão são os ingredientes fundamentais para embelezar a vida.
Texto: Luís Matias