O conflito entre Israel e o Hamas demonstra mais uma vez, de forma dramática, que a tentativa de encontrar soluções que não visem uma paz duradoura, tende apenas a gerar mais radicalização. O problema desta evidência é que ela depende agora dos setores mais radicais de ambos os lados do conflito. O governo de Netanyahu através da política de ocupação do território na Cisjordânia e, agora, em Gaza, torna cada vez mais difícil a criação de um Estado Palestiniano. O Hamas, promovendo o seu integrismo político-religioso, visa dificultar qualquer possibilidade de um Estado de Israel.
Nas últimas semanas, ouvimos líderes do Hamas e de Israel invocar Deus e citar excertos bíblicos para justificar as ações militares de vingança e de extermínio. A convivência pacífica entre dois Estados dificilmente se fará entre dois povos vizinhos que reivindicam uma superioridade moral de um sobre o outro. Essa tem sido também a estratégia das fações em confronto na abordagem que fazem da história deste conflito para justificarem o curso dos acontecimentos, desde 7 de outubro último. Por um lado, o Hamas procura invocar a história para justificar os reféns e o massacre indiscriminado que fez contra populações civis indefesas. Por outro lado, o governo de Israel procura impedir qualquer recuperação desse passado, argumentando que os acontecimentos de 7 de outubro valem por si, e que não existem “mas…” que expliquem o ocorrido, procurando deste modo legitimar a operação militar desproporcionada em Gaza.
A violência do conflito explica as profundas divisões que se estão a construir. A própria sociedade israelita está dividida entre os que responsabilizam o governo pela forma como tem tratado a Autoridade Palestiniana e o Hamas, e os apoiantes daquele que é considerado um dos governos mais extremistas da história de Israel que veem nos acontecimentos de 7 de outubro a prova da impossibilidade de qualquer compromisso com um Estado palestiniano.
Divisões internacionais
A nível internacional, os apoios e a solidariedade iniciais para com Israel reconheceram as suas pretensões de erradicar o Hamas da Faixa de Gaza, mas ninguém conseguiu explicar como tal situação seria possível, sem com isso afetar muitos milhares de inocentes, em particular quando falamos de um movimento terrorista que utiliza as populações civis quer como alvo, quer como proteção das suas próprias forças.
A Europa tem vindo a ser acusada pela comunidade internacional de usar dois pesos e duas medidas ao defender a Ucrânia contra a agressão russa, e ao deixar-se enredar em hesitações face à intervenção militar israelita na Faixa de Gaza. Por seu lado, na cimeira que ocorreu na Arábia Saudita, os países árabes revelam-se incapazes de falar a uma só voz devido à divergência acerca das formas de solucionar o conflito. Neste cenário, a chamada urgência de uma solução do problema palestiniano após a guerra parece cada vez mais com uma miragem.
Texto: Carlos Camponez