Os conflitos que decorrem atualmente na maior parte dos países que constituem o Sahel são desconhecidos da maioria da população mundial, por se tratarem de países pobres, com poucos recursos e milhões de deslocados, isto é, pessoas que abandonaram os seus locais de origem e fugiram para outras partes do seu país ou para países vizinhos. Os conflitos armados são, com a pobreza que assola a maior parte das populações deste território, a maior causa destes movimentos migratórios forçados, com milhões de pessoas a viverem em condições extremamente precárias.
Os confrontos entre populações fixas, dedicadas à agricultura, e as populações nómadas, dedicadas à criação de gado, aumentaram de intensidade por causa das alterações climáticas dos últimos anos, que reduziram as pastagens e as nascentes de água. Como se isto não bastasse, muitas populações são também vítimas dos grupos jihadistas islâmicos, os quais vão aumentando as suas milícias com o recrutamento fácil de jovens, vítimas da miséria económica que assola a região. A queda do regime de Kadhafi, na Líbia, que a seu modo garantia uma espécie de “paz Líbia”, fornecendo apoio económico aos estados desta região, favoreceu a destabilização regional, para a qual contribuiu o acesso fácil a armamento do exército líbio.
Neste contexto, a Igreja Católica, no meio de tantas dificuldades, continua presente, tentando garantir o apoio pastoral e humanitário aos fiéis que ainda se encontram naquela zona. Em Diffa, uma região no extremo sudeste do Níger, os cristãos deslocados internos encontram refugiados em fuga da perseguição religiosa na vizinha Nigéria e Chade. As agências humanitárias católicas, incluindo a Cáritas, o Serviço de Apoio Católico e a Agência Católica para o Desenvolvimento Internacional (CAFOD), estão na linha da frente no que toca à ajuda a muitos deslocados internos e refugiados, fornecendo vários meios de subsistência primários. É nestas condições que emerge a universalidade da Igreja Católica: entre os que assistem os fiéis acolhidos nos campos de deslocados e refugiados, estão vários sacerdotes Fidei Donum, oriundos de outros países africanos. Estes são sacerdotes diocesanos que exercem o seu ministério por um determinado tempo em dioceses mais necessitadas de clero de outros países.
Dado o elevado número de refugiados da Nigéria, em fuga por causa dos extremistas islâmicos do Boko Haram, o nigeriano Augustine Anwuchie, um dos padres Fidei Donum, recorda que as áreas tradicionalmente pacíficas em redor do lago Chade, que faz fronteira com o Níger, Nigéria e Camarões, se tornaram extremamente inseguras. Depois da chegada dos terroristas do Boko Haram, em 2009, muitos territórios tornaram-se vítimas do terrorismo organizado e cruel. Em 2016, este grupo terrorista começou a manifestar-se com uma série de ataques às populações, afugentando milhares de pessoas. Como se isto não bastasse, os golpes militares ocorridos no Níger, no Burkina Faso e no Mali tornaram a situação ainda mais difícil para milhões de pessoas. São necessárias soluções políticas e económicas para este enorme problema, mas infelizmente os militares insistem em impor a sua posição armada. Impotentes diante do aumento da violência e da destruição de vidas e património, sobretudo de terras e gado, muitos nigerianos formaram milícias de autodefesa, o que pode levar à desintegração do país. A Igreja local questiona a inação do governo diante da violência perpetrada por terroristas e grupos armados. Até quando?
Texto: Álvaro Pacheco