A Memória dos Santos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto foi celebrada em Portugal na passada terça-feira, dia 20 de fevereiro. Esta celebração faz-me meditar sobre o meu percurso pessoal de não crente, e muitas vezes adverso ao fenómeno de Fátima, a crente nas aparições marianas. Durante largos anos não tive qualquer tipo de ligação a Fátima, apenas algumas raras vezes a curiosidade em visitar o lugar. No entanto, na minha aproximação à Igreja Católica, a crença em Fátima e naquilo que representa e toda a sua dinâmica, foi criando em mim uma devoção e uma ligação afetiva com este lugar de culto, onde se celebra Maria, Mãe de Jesus, e a sua entrega para a salvação da humanidade. A esta ligação, certamente que não foi alheio o meu trabalho como voluntário no Hospital Dona Estefânia. Foi no dia 20 de fevereiro de 1920 que Jacinta Marto partiu deste hospital para a sua morada celeste.
O voluntariado com crianças é um trabalho duro e exigente que requer uma enorme entrega e uma grande capacidade em entender o sofrimento, principalmente o das crianças; não tanto pelos cuidados que necessitam, pois estas conseguem dar-nos grandes lições de vida, mas mais pela nossa incapacidade adulta de entender o porquê do sofrimento de uma criança. No entanto, a entrega de Jacinta Marto à dor e à doença mostrou-me como as crianças conseguem ter uma enorme capacidade de entrega e altruísmo perante a dor e o sofrimento, muitas vezes sem o entenderem, ou mesmo que nós, os adultos, o consigamos entender. Este aspeto foi plenamente apresentado no processo de canonização dos pastorinhos, ao se demonstrar que mesmo as crianças não mártires podem demonstrar virtudes heroicas.
Ainda durante o meu percurso para o incremento da minha crença no fenómeno de Fátima, não foram alheias as várias ações de formação promovidas pelo santuário, nas comemorações do centenário das aparições. De uma atitude cética quanto ao acontecimento, fui progredindo até uma crença do fenómeno como real. Não como uma ‘lavagem cerebral’, mas como um sentimento interior crescente, o qual se foi desenvolvendo progressivamente ao longo das várias formações em que fui participando, bem como de algumas questões e dúvidas pessoais que fui colocando aos vários responsáveis.
Fátima foi também de grande ajuda em várias situações de doença de familiares. Nestes processos de doença, muitos deles de grande dor interior, foi nas várias ‘visitas relâmpago’ ao santuário que encontrei o consolo e o espírito necessários, para encarar com energia renovada as várias vicissitudes que qualquer processo de acompanhamento de doentes acarreta. Assim, para mim, foi um processo de interiorização e crescimento, lugar de onde se sai com forças renovadas e com um novo ânimo, o qual permite encarar os desafios quotidianos que diariamente se nos apresentam.
Texto: Paulo Barroso