As injustiças sociais ampliam a distância entre ricos e pobres. Basta pensar que uma pequeníssima minoria da população é detentora de grande parte dos recursos. Um relatório da organização humanitária Oxfam, lançado em janeiro, intitulado “Sobrevivência dos mais ricos”, revelou que 63 por cento de toda a nova riqueza criada desde 2020, no valor de 39 biliões de euros, beneficiou apenas um por cento da população mundial.
Neste tempo caracterizado pela globalização das questões sociais, a Igreja deve afirmar a centralidade da pessoa humana em todos os aspetos da sociedade. Nesta época em que muitos cristãos são acusados de falta de formação, autenticidade e coerência, todos são chamados a ser como a “alma do mundo”. A Igreja deve promover o homem na sua integralidade e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Uma Igreja que se cala perante o mal, não é uma verdadeira Igreja.
Desde o final do século XIX, os Papas têm usado as cartas encíclicas para abordar as questões sociais complexas. Em 1891, o Papa Leão XIII abriu esse caminho com a carta encíclica “Rerum Novarum”, sobre a condição dos operários. Leão XIII defendeu os direitos dos trabalhadores afirmando a dignidade do trabalho. Os últimos Papas – Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco – escreveram várias encíclicas sociais que constituíram etapas fundamentais do pensamento católico sobre a promoção dos direitos humanos, o bem comum e o desenvolvimento integral humano.
A encíclica “Populorum Progressio” (O desenvolvimento dos povos, em português), publicada em março de 1967, é um dos textos mais significativos e emblemáticos do século passado, e ainda é atual hoje, no contexto sociocultural marcado pela globalização, crise económica, fenómenos de guerra e grandes desafios migratórios da atualidade. Esta encíclica orienta a atenção à acentuada marginalização dos pobres. O Papa Paulo VI apresenta os elementos essenciais do desenvolvimento humano integral e as condições necessárias para o crescimento solidário entre todos os povos. Ele afirmou que o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo. “O que conta para nós, é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até se chegar à humanidade inteira”.