Os fluxos migratórios são um fenómeno frequentemente provocado pela inexistência de recursos, ou por necessidades demográficas e políticas, entre outras. O fenómeno sempre existiu em todas as épocas, assumindo características diferentes. Esta é uma realidade de que por vezes não nos apercebemos.
A imigração, no contexto do mundo globalizado, implica o inevitável contacto entre culturas, que cria novas oportunidades entre povos diferentes e mutuamente estranhos. Mas não podemos esquecer que há também desafios que caracterizam esta diversidade. Um dos grandes desafios é o do medo em relação ao outro. Nas nossas sociedades atuais, e infelizmente também na Igreja, existe este medo, que dá origem a um sentimento crescente de suspeita e de estereótipos em relação aos imigrantes.
As migrações mudaram as perceções da Igreja e continuam a impeli-la para que ofereça uma pastoral específica e diferente. A Igreja deve ser acolhedora e caridosa com todo o ser humano, especialmente com os mais necessitados. Não basta ter um bom coração para ajudar. Para integrar estes irmãos e irmãs imigrantes, é necessário também ter uma boa capacidade de raciocínio para compreender esta realidade e não cair em preconceitos. É necessária uma nova capacidade de fazer uma análise séria e científica da realidade migratória.
É preciso ter em conta os mecanismos perversos que geram este sofrimento e as atitudes desastrosas no domínio das migrações. Este é, pois, o primeiro ato de solidariedade para com os nossos irmãos e irmãs migrantes. É por isso que devemos estar conscientes de que as improvisações sentimentais de ajuda não são suficientes para gerir situações que criam discriminação, preconceitos e estereótipos. O que é necessário hoje em dia é a competência e o estudo aprofundado e crítico da realidade. De facto, não se trata apenas de um estudo académico, mas também de um estudo de factos concretos, ou seja, de fazer uma boa leitura dos ‘sinais dos tempos’.
Não podemos esquecer que toda a atividade da Igreja é a expressão de um amor que procura o bem integral de cada pessoa. Este encontro entre imigrantes e povos autóctones serve, hoje em dia, para pôr em prática um novo e renovado modo de evangelizar. Este grande encontro deve fazer-nos sentir necessidade de uma nova evangelização.
O centro de atração desta nova evangelização são os pobres e os marginalizados, entre eles, os migrantes e os refugiados. Estas novas fragilidades são um lugar de evangelização, de trabalho missionário. Evangelizar na era das migrações significa também ir ao encontro daqueles que não partilham a fé cristã. Ou seja, pessoas de outras religiões, que ainda não encontraram Jesus Cristo ou que só o conhecem de forma parcial. Mas isso deve ser feito com o respeito devido a todos e com a prudência que tais situações exigem. O anúncio pode por vezes não ser bem recebido, mas o que mais interessa é encontrar valores comuns para partilhar, tendo em vista a promoção da vida.
Texto: Patrick Mandondo, missionário da Consolata em Oujda, Marrocos