A ilustradora Marta Teives foi a artista convidada para executar a pintura relativa ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número dez – Reduzir as desigualdades.
Como foi a preparação de uma obra num bairro que desconhecia?
Era importante que a pintura refletisse o bairro, para não ser uma obra que pudesse estar num bairro qualquer. Para isso, tive de conhecer o bairro e os seus moradores. No verão fiz várias excursões ao bairro, juntamente com uma amiga, a artista Paula Xavier, que vai fazer outra pintura, e nessas visitas convivemos com moradores. Desenhámos frequentadores da missa dominical, crianças da comunidade cigana e pessoas acamadas.
A comunidade do bairro é marcada pela multiculturalidade e pela exclusão. Podemos identificar estas características na obra?
Tentei que a obra espelhasse a diversidade. Podemos ver cristãos, muçulmanos, pessoas da comunidade cigana, assim como outras oriundas de Cabo Verde, Angola e Guiné. Temos miúdos e graúdos, um bebé de um ano e um senhor já centenário. Podemos ver pessoas com deficiências e com diferentes situações profissionais e literárias. Nem todas as características serão identificáveis à primeira, mas elas estão lá.
A obra é intitulada “It takes a village”. Entre os moradores do bairro houve alguma história mais marcante?
Todas as histórias são marcantes, cada uma à sua maneira. Mas posso contar uma situação que me marcou, já durante a execução do mural. Um dos retratados, um homem de etnia cigana, estava já muito doente, e a família, enquanto eu estava a trabalhar na grua, pediu-me para terminar a pintura da sua figura o mais rapidamente possível, para que ele ainda a conseguisse ver. Foi a primeira pessoa a ser pintada das vinte e tal que lá estão, e sei que ele ainda viu a pintura antes de falecer… É algo agridoce.
Texto: Mário Linhares