Não faz manchetes dos jornais, nem sequer aparece no interior da maioria deles, mas a guerra na Síria, que completou na semana passada 13 anos, já obrigou mais de 13 milhões de sírios – cerca de metade da população pré-conflito – a fugir das suas casas. A recente onda de violência – que assolou o país nos últimos seis meses em diversas localidades – é a pior dos últimos quatro anos e, atualmente, há na Síria 7,5 milhões de crianças a precisar de ajuda humanitária – mais do que em qualquer outro momento durante o conflito -, alerta a UNICEF.
“A triste realidade é que hoje e nos próximos dias, muitas crianças na Síria celebrarão o seu 13.º aniversário, tornando-se adolescentes, sabendo que toda a sua infância até à data foi marcada por conflitos, deslocamentos e privações”, afirmou a diretora regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África, Adele Khodr, em comunicado divulgado pela instituição. “Em última análise, as crianças precisam de uma oportunidade. Precisam de uma solução pacífica a longo prazo para a crise, mas não podemos ficar apenas à espera que isso aconteça. Entretanto, é fundamental garantir que as crianças e as famílias não só tenham acesso a serviços básicos mas também que estamos a equipar as crianças com as competências necessárias para construir o seu próprio futuro”, acrescentou.
Segundo dados da ONU, quase metade dos 5,5 milhões de crianças em idade escolar na Síria – cerca de 2,4 milhões de crianças entre os 5 e os 17 anos – não frequenta a escola. E mais de 650 mil crianças com menos de cinco anos sofrem de subnutrição crónica – um aumento de cerca de 150 mil desde 2019. Só entre 1 de janeiro e 31 de outubro de 2023, 454 civis foram mortos devido aos conflitos armados, dos quais 115 eram crianças.
Apesar destes números, “o financiamento humanitário caiu para um nível mais baixo de sempre, tanto dentro da própria Síria como para os sírios nos países vizinhos”, lamenta a UNICEF. “Uma geração de crianças na Síria já pagou um preço insuportável por este conflito”, disse Khodr. “O apoio contínuo da comunidade internacional é fundamental para restaurar sistemas que proporcionem serviços sociais básicos essenciais, como educação, água e saneamento, saúde, nutrição, proteção social e infantil, garantindo que nenhuma criança na Síria seja deixada para trás”.
“Também o povo açoriano já foi sujeito de semelhante ajuda fraterna”
Sensível às enormes necessidades da população síria, incrementadas pelo terramoto que assolou o país a 6 de fevereiro do ano passado – o quinto mais mortal dos últimos 20 anos -, a diocese de Angra entregou na semana passada 12.378,40 euros à Cáritas daquele país, o resultado da renúncia quaresmal no ano de 2023, informou no início desta semana, o ecónomo diocesano, cónego António Henrique Pereira. A transferência, feita através da Cáritas Internacional, visa apoiar as populações sírias vítimas do terramoto na Síria, que ocorreu a 6 de fevereiro do ano passado e vitimou mortalmente mais de 50 mil pessoas.
“Todos sabemos o que significa um terramoto nos Açores, também o povo açoriano já foi sujeito de semelhante ajuda fraterna, até de outros países. Agora vamos pensar neles e nas suas casas e vidas a reconstruir”, podia ler-se na mensagem da Quaresma do bispo de Angra, no ano passado. Já este ano, o bispo Armando Esteves Domingues anunciou que as comunidades açorianas vão ajudar, com os donativos da sua renúncia quaresmal, projetos em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária