Moçambique celebra para o ano 50 anos de independência, mas a paz ainda não é total e efetiva. A violência continua hoje, sobretudo na província de Cabo Delgado, e faz os seus mártires. A Igreja moçambicana é uma pátria de heróis, de mártires. Os mais conhecidos, no âmbito eclesial, são a Serva de Deus Luísa Mafu e companheiros – conhecidos como os ‘Mártires do Guiúa’ – e os Servos de Deus Sílvio Alves Moreira e João de Deus Kamtedza – os ‘Mártires de Chapotera’.
O grupo dos ‘Mártires do Guiúa’ era constituído por 24 moçambicanos, que foram mortos quando se encontravam no Centro Catequético do Guiúa, na diocese de Inhambane. Do grupo faziam parte homens, mulheres e crianças, que participavam num curso de formação de longa duração para famílias de catequistas. Morreram dia 22 de março de 1992. Decorriam então os últimos meses de uma guerra fratricida que devastava Moçambique. O país tentava emergir de um longo período de conflito, de trevas e provações. Confiante de que as conversações em curso em Roma para alcançar a paz iriam pôr fim à guerra, a diocese de Inhambane decidiu reabrir o Centro Catequético do Guiúa para a formação de famílias de catequistas. Três dezenas de pessoas escolhidas em diferentes missões acabavam de chegar, quando na madrugada de 22 de março de 1992 um grupo de homens armados atacou o Centro Catequético e raptou a maior parte das famílias. Pelo caminho, um grupo de 24 catequistas e familiares foram brutalmente chacinados à baioneta. Testemunharam a sua fé com o sangue. Os seus corpos foram transportados e sepultados no Centro Catequético, no local onde está atualmente o Santuário Diocesano de Inhambane. A missão dos catequistas mártires do Guiúa, abruptamente interrompida em 1992, continua viva. A sua memória e o seu exemplo ecoam ainda, e sempre no silêncio da brisa eterna da colina do Guiúa.
Os padres João de Deus Kamtedza e Sílvio Moreira – conhecidos como ‘Mártires de Chapotera’ – são a imagem e exemplo de Jesus, o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas. João de Deus Kamtedza era moçambicano, e Sílvio Moreira era português. Eram ambos missionários jesuítas. Viveram e morreram a dar a vida. Ambos sentiam como seus os sofrimentos e as esperanças do povo da Angónia, onde viviam como missionários. Eles manifestaram-se, a alto e bom som, e com o tom da paz, contra as injustiças, vinganças e arbitrariedades, em defesa do povo inocente. A 30 de outubro de 1985 foram barbaramente assassinados, em Chapotera, entre a Missão de Lifidzi e a Missão de Chabwalo, na Angónia. Mártir significa testemunha. Eles testemunharam corajosamente, em nome de Cristo, que a vida humana é sagrada, que o pobre e o fraco têm que ser defendidos, que a vingança arbitrária não pode ser lei, mas que só o amor, o perdão e a fraternidade devem triunfar.
Texto: Diamantino Antunes, missionário da Consolata e bispo de Tete, em Moçambique