Segundo diversos estudos, quando os primeiros colonizadores chegaram ao que é hoje o Brasil, a população indígena era de aproximadamente 10 milhões de pessoas, representada por mais de mil etnias, povos distintos com costumes, tradições, línguas e territórios próprios. Entre estas, cerca de 5 milhões de pessoas viviam na Amazónia, incluindo a área de colonização espanhola. Atualmente, o total da população indígena é de apenas 1,7 milhões de pessoas, cerca de 0,8 por cento da população brasileira.
Desde os períodos do Brasil Colónia, Império e República, que os povos indígenas são tratados pelos governantes e pela população não indígena, como um grupo que atrapalha o progresso e o avanço da civilização. A discriminação e a violência, incluindo massacres, foram sempre as formas de dominar e exterminar aqueles povos indefesos e fragilizados.
Num artigo de Maria Fernanda Garcia, publicado no Observatório do Terceiro Setor, pode ler-se: “Os índios que sobreviveram foram escravizados ou catequizados. As doenças trazidas pelos brancos foram outra arma mortal: sem imunidade para os vírus e bactérias levadas pelos colonizadores, os índios não resistiram às doenças até àquele momento desconhecidas por eles. Durante a ditadura militar, mais de 8 mil indígenas foram mortos por se oporem ao Programa de Integração Nacional”. Em 1972, foi criado o Conselho Indígena Missionário (CIMI), um organismo da Igreja Católica que tem o objetivo de lutar na defesa dos povos indígenas, assegurar a sua diversidade cultural, e fortalecer a sua autonomia, contribuindo para a formação das lideranças representativas desses povos.
Entre as forças missionárias que se colocaram ao lado das povoações indígenas estão os Missionários da Consolata, que estão presentes em Roraima desde 1948. Em 1971, estes missionários fizeram a opção pelos indígenas, e em 1972 passaram a viver nas malocas, isto é, as cabanas comunitárias dos índios, no meio do povo. Os missionários passaram de uma pastoral sacramental, feita a partir das fazendas e ao lado dos colonizadores, para uma pastoral profética e libertadora, a partir das aldeias indígenas, vivendo lado a lado com as povoações. Esta opção profética foi assumida mais tarde pela diocese de Roraima, e provocou perseguições, difamações e ameaças de morte aos missionários e a Aldo Mongiano, bispo Missionário da Consolata, cuja cabeça tinha um preço.
Os Missionários da Consolata têm caminhado com os povos indígenas, partilhando as suas lutas, esperanças, alegrias e ameaças, rompendo fronteiras e adaptando novas formas de evangelização, centrados, sobretudo, no ‘estar com’, e respeitando a cultura e a tradição de cada povo. Um momento marcante na história da luta e da resistência dos povos indígenas, foi a criação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em 2005, representando a capacidade de mobilização dos indígenas, para tornar mais visível a situação real da violência a que estão submetidos.
Infelizmente, os avanços no que toca à defesa da cultura dos povos indígenas são lentos. Entretanto, várias etnias continuam a perder gente, incluindo os Waimiri-Atroari, que perderam 75 por cento da sua população em menos de 15 anos, os Paraná, que perderam 84 por cento, os Parakanã no Pará, que perderam metade da população, e os Yanomami do Rio Ajarani, que ficaram reduzidos a dez por cento. Entre 2003 e 2015, foram assassinados 742 indígenas, principalmente líderes, o que representa uma média de 57 pessoas por ano. Em 2018, o CIMI voltou a denunciar a invasão dos territórios indígenas por garimpeiros, madeireiros e grileiros, com sérios danos ao ambiente e à saúde e vida em geral dos indígenas. Até quando continuarão estas populações a desaparecer lentamente?