O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, justifica com o acompanhamento que faz “sempre que possível” das atividades “ligadas ao desporto, nomeadamente ao futebol” o facto de ser o número um da candidatura liderada por Pinto da Costa ao Conselho Superior do Futebol Clube do Porto. Considerando “que a presença da Igreja no ambiente desportivo e institucional é ”positiva e proporciona o acompanhamento evangelizador de atletas e dirigentes”, o cardeal acrescenta que “quanto às conversões [elas] acontecerão no coração de cada um”.
A propósito da notícia veiculada em vários órgãos de comunicação, como por exemplo no Jornal de Notícias, o 7Margens dirigiu ao bispo de Setúbal quatro perguntas:
– O cardeal Américo Aguiar entende que integrar um órgão de um clube de futebol, por “superior” que seja, constitui uma tarefa própria de um bispo da Igreja Católica?
– O facto de o cardeal Américo Aguiar integrar um órgão de uma lista candidata à eleição dos corpos gerentes de um clube de futebol não lhe suscita qualquer problema, enquanto bispo da Igreja Católica em Portugal?
– Tendo em conta as verbas avultadíssimas que o futebol movimenta e que tantas vezes são motivo de escândalo, ou razão para suspeitas sobre a origem dos dinheiros em jogo, faz sentido ver um bispo a apoiar, desta forma, um candidato à presidência de um clube de futebol?
– O facto de ser convidado de alguém que, em período eleitoral, representa uma parte dos adeptos de um clube e aparecer associado a práticas e comportamentos pouco recomendáveis (vd. a última assembleia geral desse clube) não corre o risco de ser um contra-testemunho, mesmo para quem não acompanha as questões do futebol?
Sem responder diretamente às perguntas, e através do gabinete de comunicação da Diocese, o bispo de Setúbal recordou que “é sócio do Futebol Clube do Porto (FCP) desde 2015, assim como é do Vitória Futebol Clube [de Setúbal] desde 2023, e como foi do Boavista e do Leixões”.
Na notícia referida, o ainda presidente do FCP diz que o cardeal se ofereceu por “vontade própria” a Pinto da Costa, dizendo-lhe que não estava a pensar no dirigente desportivo “mas no bem do clube”. Na resposta, o cardeal diz que integra atualmente, como membro efetivo, o Conselho Superior Consultivo da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) do FCP, e “foi convidado a integrar a lista de candidatos ao Conselho Superior, uma espécie de ‘Senado’” da estrutura da equipa. Para este órgão são eleitos, segundo critérios de proporcionalidade, membros das diferentes listas concorrentes às eleições no clube. Havendo “várias sensibilidades”, isso “é salutar e democrático”, diz o cardeal.
Em 2019, o bispo foi galardoado com o “Dragão de Ouro” de sócio do ano e, três anos depois, com o título de “Dragão de Honra”. Em Agosto do ano passado, depois da Jornada Mundial da Juventude, da qual foi o principal rosto, o cardeal foi Américo Aguiar foi uma das primeiras personalidades a expressar publicamente o seu apoio a uma recandidatura de Pinto da Costa, lembra o Porto Canal: “Estou convencido de que, enquanto o presidente quiser, enquanto o presidente tiver força e saúde que lhe permitam ser o líder desta família, desta instituição e deste clube, não poderemos deixar de o apoiar, e não poderemos deixar de dizer que é esse o caminho que devemos seguir”, afirmou na ocasião.
Este texto teve o contributo de Manuel Pinto.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária.