O seminário menor dirigido pelos padres espiritanos em Porto Príncipe, no Haiti, foi atacado por gangues armados, na noite da passada segunda-feira, 1 de abril, denunciou a Conferência dos Religiosos daquele país. Este é mais um episódio dos muitos que se têm sucedido no contexto da escalada de violência e insegurança vivida nas últimas semanas.
“É com indignação que constatamos como os filhos e filhas do país atacam sem escrúpulos a propriedade privada e estatal e põem em perigo a vida de outras pessoas que parecem não ter valor aos seus olhos”, lamenta o organismo católico, num comunicado enviado ao 7MARGENS.
Os elementos do gangue que invadiram o seminário de Saint-Martial pegaram fogo à sala de informática e às instalações da administração da instituição, tendo, ainda, saqueado o gabinete do diretor, a residência da comunidade e as instalações da escola. Foram também queimados quatro veículos que se encontravam no local. Perante o ataque, os padres, alguns membros da direção do colégio e outros funcionários presentes tiveram de se esconder durante seis horas.
“É provável que se verifiquem outras intrusões nas próximas horas ou dias se a escola, de uma forma ou de outra, não for protegida. Estamos devastados e continuamos muito preocupados com a deterioração contínua da situação no nosso país. Agradecemos o vosso apoio fraterno no pensamento e na oração”, afirmou o superior provincial dos espiritanos do Haiti, padre Raynold Joseph, citado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
No dia do ataque, os mesmos gangues criminosos tentaram tomar à força o Palácio Nacional do Haiti, onde se localiza o gabinete do presidente do país, mas não conseguiram graças às ações da polícia haitiana e ao apoio das unidades de segurança do edifício. Cinco funcionários ficaram feridos no incidente, um deles gravemente.
Desde o início de março, a situação política e social no Haiti tem vindo a deteriorar-se significativamente. A ONU apelou, a 28 de março, a que sejam postas em prática “ações imediatas e corajosas” para enfrentar a complexa situação vivida no país. “A luta contra a insegurança deve ser uma prioridade máxima para proteger a população e evitar mais sofrimento humano. É igualmente importante proteger as instituições essenciais ao Estado de direito, que foram atacadas no seu âmago”, disse o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk.
Para além disto, a ONU informou que a violência sexual contra as mulheres por parte de grupos criminosos se agravou nas últimas semanas e que a maioria dos casos não é denunciada e permanece impune. De acordo com esta organização, o número de vítimas de violência no Haiti aumentou exponencialmente em 2023, em comparação com os anos anteriores, com 4.451 pessoas mortas e 1.668 feridas. Nos primeiros três meses de 2024 (até 22 de março), 1.554 pessoas foram mortas e 826 ficaram feridas.
Texto redigido por José Alberto Catalão/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.