Com o tema “Vou levar-te ao deserto”, 11 Jovens Missionários da Consolata de Lisboa aceitaram o desafio de viver o Tríduo Pascal com a comunidade da paróquia do Vau, em Óbidos, de 27 e 31 de março. Com os jovens, partiram também os animadores Leigos Missionários da Consolata, assim como Anistalda Soares, irmã missionária da Consolata, e Augusto Faustino, sacerdote da mesma congregação. Os elementos do grupo foram muito bem acolhidos pela Associação Recreativa Desportiva Cultural Vauense, onde ficaram alojados, e a eles juntaram-se cinco jovens da paróquia anfitriã.
Além das reflexões temáticas próprias de cada dia, o grupo animou liturgicamente todas as celebrações. Outros momentos muito intensos foram a ceia hebraica com a comunidade, e a ida em missão pela aldeia, dois a dois, tal como os discípulos. Como dizia o pároco Mário Campos, na Eucaristia de acolhimento, “Jesus deseja ardentemente comer esta Páscoa convosco”. No final, os jovens corresponderam e clamaram também eles – “Ressuscitou, aleluia aleluia”.
Na primeira pessoa
Desde pequena que vivo a Páscoa. Nunca foi uma semana propriamente entusiasmante para mim. Parecia sempre que nunca mais acabava e invejava quem não tinha de passar por ela, como o meu irmão e primos mais novos, que tinham um ‘tamanho’ aceitável para dormir nas celebrações, sem ninguém levar a mal. Este ano fui convidada a viver a Páscoa Jovem Missionária no ‘deserto’. Foi-nos proposto que vivêssemos esta Páscoa como testemunhas e não como espetadores da vida, morte e ressurreição de Jesus.
Diria que o que me marcou mais nestas dinâmicas de reflexão foi a exploração que fizemos do túmulo vazio. Ainda recordo as meditações – “O vazio é respiração, é repouso, é promessa. O vazio é disponibilidade, é espera, é aprendizagem, é uma provocação à criatividade. Se neste momento experimentas a tua vida como um túmulo vazio, não desesperes. O túmulo está vazio, mas a nossa vida, e todo o mundo de possibilidades, nunca esteve tão cheio”.
Para além disto, sinto, e sei, que não sou a única que a Igreja não está a conseguir acompanhar entre a minha geração. Sou bastante crítica em relação à organização, incluindo à estrutura das suas celebrações. No entanto, visto que nesta Páscoa estávamos a celebrá-las com a comunidade do Vau, estas fizeram-me
sentido, porque sei que faziam sentido para aquelas pessoas.
Percebi que ser cristão é, para mim, acreditar nesta obra de vida de Jesus Homem que teve dúvidas – “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?” – e não procurou a sua morte. Teve medo, mas aceitou-a. Jesus ensina-nos, assim, que não é por ela existir como um fim inevitável na nossa vida que devemos perder a esperança nela. Ensina-nos que devemos viver na terra para além desta morte, que uma vida sem erros não existe, e sei que Ele não nos pede mais do que o que podemos ser, e que, se a nossa vida for coerente e vivida em comunidade com os outros, ultrapassará sempre a morte. Percebi, nesta Páscoa, que Jesus não veio desvendar o mistério da morte, mas sim o da vida.
Texto: Mariana Leal