Aquando da invasão que os jihadistas perpetraram na cidade iraquiana de Mossul em 2014, pelo menos 1.200 famílias cristãs viram-se obrigadas a fugir. Desde então, passados dez anos, poucas regressaram. “São cerca de 30 a 40 famílias, muitas vezes não completas. Muitos são idosos. Várias famílias vêm e vão de outros lugares, mas não representam uma presença estável que se possa notar”, afirma Paul Thabit Mekko, bispo caldeu de Alqosh, cidade iraquiana localizada a norte de Mossul, citado pela Agência Fides.
Os dias da conquista de Mossul pelos jihadistas são lembrados como o início de uma época repleta de traumas e dores, que parece ter modificado profundamente o perfil de uma cidade outrora descrita como um lugar de convivência entre diferentes comunidades de fé, naquela que é reconhecida como uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo.
Até há duas décadas, havia mais de 100 mil cristãos em Mossul, inseridos num tecido social em que a maioria sunita coexistia com xiitas, yazidis e outras minorias. O número de cristãos começou a diminuir após a intervenção militar liderada pelos Estados Unidos da América que levou à queda do regime de Saddam Hussein em 2003. Desde então, a violência sectária aumentou.
Nas semanas que se seguiram à conquista de Mossul pelos jihadistas, o êxodo de milhares de cristãos de Mossul continuou. As suas casas foram “marcadas”, juntamente com as dos xiitas, como habitações que poderiam ser expropriadas por milicianos e novos seguidores do Estado Islâmico. Duas freiras e três rapazes foram temporariamente capturados pelos jihadistas. Depois, em janeiro de 2015, os milicianos do autoproclamado Califado expulsaram de Mossul dez idosos cristãos caldeus e sírio-católicos, recolhidos em aldeias da planície de Nínive e alojados temporariamente na segunda cidade do Iraque, depois de terem recusado abjurar a sua fé cristã e converter-se ao Islão.
Durante a ocupação jihadista, Mossul tornou-se a capital iraquiana do Estado Islâmico. Um ano depois, em junho de 2015, o Daesh controlava um terço do Iraque e quase metade da Síria, ameaçava a Líbia e contava com a adesão de dezenas de grupos armados no Médio Oriente e em África. A operação militar para pôr fim ao domínio jihadista de Mossul, em 2017, durou meses e teve fases extremamente sangrentas.
“Creio que mais de 90 por cento dos cristãos que fugiram de Mossul não tencionam regressar. O que eles viram e sofreram criou um muro psicológico. Alguns foram expulsos, outros sentiram-se traídos. Não sabemos se a situação vai mudar. Atualmente, muitos vivem em Ankawa, o bairro de Erbil habitado por cristãos, sentem-se mais seguros e têm mais oportunidades de trabalho. Não pensam regressar a uma cidade que mudou muito em relação ao que era quando lá viviam. Não a reconheceriam”, afirma o bispo Paul Thabit Mekko.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.