“Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais”, assinalou Francisco no seu discurso aos comediantes. Foto © Vatican Media

Não é que costumemos ver Maria Rueff triste, mas por estes dias vimos-lhe uma alegria especial. O encontro de Francisco com humoristas e atores de comédia de todo o mundo, que aconteceu na passada sexta-feira, 14 de junho, no Vaticano, e no qual teve oportunidade de participar, foi para ela “uma dádiva”, reconheceu ao 7MARGENS após regressar a Lisboa.

“Para mim este gesto de Francisco foi a dignificação da arte da comédia., sempre considerada a parente pobre das artes, sempre temida pela Igreja – basta reler O Nome da Rosa, de Umberto Eco… Portanto, para além de dádiva é uma posição revolucionária de Francisco que me encheu de alegria. E testemunhar isto já basta e já é tanto”, assinalou a comediante portuguesa.

Maria Rueff aproveitou a oportunidade para levar um presente ao Papa. Ao contrário do que muitas pessoas terão pensado ao ver as imagens do momento em que lho entregou, não se tratava de uma garrafa de vinho, mas sim de uma reprodução de um trecho do Sermão de Natal, de Santo António, em que este afirmava que “com Cristo nasceu o riso”.

Um presente em consonância com o discurso do Papa durante o encontro, do qual a atriz destacou uma frase em particular: “aquela em que disse que, quando conseguimos fazer rir alguém, Deus também sorri… foi comovente e simbólico”, partilhou.

“Também é possível rir de Deus? É claro que sim!”

Toda a intervenção do Papa foi no sentido de reconhecer o valor dos comediantes ali representados por cerca de 200 profissionais de todo o mundo, entre os quais – além de Maria Rueff – os portugueses Ricardo Araújo Pereira e Joana Marques.

“Tenho grande estima por vocês artistas que se expressam com a linguagem da comédia, do humorismo e da ironia. De todos os profissionais que trabalham na televisão, no cinema, no teatro, nos média impressos, com músicas, nas redes sociais, vocês estão entre os mais amados, procurados e aplaudidos. Certamente porque são bons, mas há também outro motivo: vocês têm e cultivam o dom de fazer as pessoas rirem”, afirmou Francisco logo no início do seu discurso.

Um dom que assume uma importância particular “no meio de tantas notícias sombrias, imersos como estamos em tantas emergências sociais e também pessoais”, assinalou o Papa. “Vocês têm o poder de espalhar a serenidade e o sorriso. Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais”, disse ainda, sublinhando a capacidade dos humoristas de unir as pessoas. “É mais fácil rir juntos do que sozinhos: a alegria permite a partilha e é o melhor antídoto contra o egoísmo e o individualismo. Rir também ajuda a quebrar as barreiras sociais, a criar conexões entre as pessoas.”

“Mas vocês também conseguem outro milagre: conseguem fazer sorrir mesmo quando lidam com problemas, pequenos e grandes factos da história”, continuou o Papa. “Vocês denunciam os excessos de poder; dão voz a situações esquecidas; evidenciam abusos; apontam para comportamentos inadequados. Mas sem espalhar alarme ou terror, ansiedade ou medo, como fazem muitos da comunicação.”

E é por isso que, na perspetiva de Francisco, os humoristas devem servir de modelo: “o riso do humorismo nunca é ‘contra’ alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia”.

Reconhecendo isso mesmo, pediu aos presentes da Sala Clementina: “Lembrem-se disto: quando vocês conseguirem fazer com que sorrisos inteligentes brotem dos lábios de até mesmo um só espectador, vocês também fazem Deus sorrir”. E assegurando que tal não era uma heresia, acrescentou ainda: “Também é possível rir de Deus? É claro que sim, e isso não é blasfémia! Podemos rir, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos”, concluiu.

Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária