O apelo foi feito pelo Papa Francisco: utilizar os espaços da Igreja Católica devolutos ou sem uso para respostas humanitárias. Os Salesianos e os Jesuítas em Portugal aceitaram o desafio e, do antigo colégio de uns, nasceu o novo centro de acolhimento de emergência para refugiados de outros. Fica em Vendas Novas, tem capacidade para 120 pessoas, e promete ser amigo das famílias, do ambiente, e da comunidade em que se insere.
A colaboração começou a ser desenhada em 2020 e consistiu na celebração de um contrato de comodato nas antigas instalações do Colégio de São Domingos Sávio, onde em 1975 foi instalada a Escola Secundária de Vendas Novas, posteriormente desativada em 1993. Desde então, o espaço serviu de base a grupos e atividades locais, como a catequese e os escuteiros, mas uma grande parte do seu potencial permanecia por explorar.
A inauguração do novo centro do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) aconteceu na última quinta-feira, 20 de junho – data em que se assinalou o Dia Mundial do Refugiado – após cerca de dois anos de obras, que passaram pela substituição do telhado, criação de 23 quartos familiares ou partilhados com casa de banho privativa, espaços comuns de cozinha, refeição e lazer, lavandaria, salas polivalentes, e instalação de 108 painéis solares, tendo todo o edifício sido preparado para se tornar completamente “verde”, sem recurso a combustíveis fósseis.
Os custos envolvidos nesta requalificação (perto de dois milhões de euros) foram financiados em 75 por cento pelo Fundo de Asilo, Migrações e Integração, com uma coparticipação de 25 por cento do Estado português.
“Sabemos o impacto e a importância do espaço físico no bem-estar das pessoas que os habitam, e queremos que o Centro de Vendas Novas seja um novo começo positivo e estabilizador. A criação deste Centro é fruto de um financiamento comunitário, mas sobretudo de uma visão estratégica da Igreja em parceria com o Estado Português, alinhada com a missão que Pedro Arrupe definiu para o JRS”, sublinha o diretor-geral do JRS Portugal, André Costa Jorge, em comunicado enviado ao 7 Margens.
“Como nos diz o Papa Francisco, nós somos chamados a acolher, promover, acompanhar e integrar todos os que nos batem à porta. São famílias que procuram paz e segurança. São mulheres, crianças e homens que procuram a nossa hospitalidade, atenção, acolhimento”, lembra por seu lado o padre Tarcízio Morais, superior da Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, para quem esta iniciativa é uma união de esforços na concretização desse dever.
Mais do que uma residência
Com o espaço pronto para receber os seus primeiros residentes, falta agora que o projeto de acolhimento seja aprovado pelo Estado português. Uma vez obtida a aprovação, o objetivo é começar a acolher requerentes de asilo espontâneos em Portugal, pessoas refugiadas da Síria que vivem em campos de refugiados ou em condições precárias em países de trânsito, pessoas resgatadas pelos barcos humanitários no Mediterrâneo, afegãos que tiveram de fugir do país e menores refugiados não acompanhados, adianta ao 7 Margens a coordenadora de projetos do JRS Portugal, Catarina Saraiva Lima. “Estaremos igualmente preparados para responder a novas necessidades humanitárias que possam surgir, como as dos palestinianos ou de outras vítimas de conflitos armados, guerras, perseguições ou perigo de vida, em qualquer parte do mundo”, acrescenta a responsável.
Além de servir como residência onde os refugiados possam permanecer numa fase inicial da sua vida em Portugal, o centro oferecerá também apoio social e psicológico, orientação cultural, formação e orientação profissional, aprendizagem da língua portuguesa, apoio legal e todos os serviços necessários para o acesso a bens e serviços básicos. Tudo isto para ajudar a que as pessoas refugiadas possam, numa fase seguinte, prosseguir a sua vida de forma autónoma, já fora do centro de acolhimento.
Muitos desafios se adivinham, reconhece Catarina Saraiva Lima: “os principais desafios incluem o mercado de habitação para alavancar processos de autonomia, a gestão de vários idiomas e culturas diferentes, a dependência de financiamento para o funcionamento do centro, e a sensibilização da comunidade local”. Mas uma coisa é certa: este será um espaço aberto à comunidade, até pela sua localização próxima da paróquia, da sede dos escuteiros e de uma universidade sénior.
“A criação deste centro não é um projeto individual, nem tampouco isolado, pretendendo ao invés integrar-se plenamente na comunidade local de Vendas Novas. A colaboração estreita com a Câmara Municipal e o envolvimento da comunidade são, por isso, fundamentais para garantir a integração do próprio Centro na comunidade”, conclui André Costa Jorge.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária