O imponente edifício no centro de Chisinau, um antigo liceu, ostenta no topo da fachada principal o seu nome em romeno “Muzeul National de Istorie” e tem no pequeno jardim junto da entrada uma estátua da loba a amamentar Rómulo e Remo, uma alusão ao mito fundador de Roma. A língua é latina (daí a semelhança das palavras com o português) e a Moldova, tal como a vizinha Roménia, orgulha-se da sua identidade resultar da fusão dos antigos dácios, indomáveis, e dos romanos que no tempo do imperador Trajano finalmente os conquistaram, há quase dois mil anos. Ora, mais do que nunca desde a declaração de independência de 1991, esta antiga república soviética quer hoje que o seu destino seja ocidental, integrando a União Europeia e estreitando também relações com os Estados Unidos da América (EUA).

Nos edifícios públicos de Chisinau a bandeira azul com as 12 estrelas surge sempre ao lado da bandeira moldova, constituída por três faixas azul, amarelo e vermelho, com uma águia ao centro que segura um escudo com a cabeça de um boi. Desde 2022, a Moldova é candidata à UE e o objetivo assumido pela presidente Maia Sandu é que a adesão aconteça até 2030. Formada em Economia pela Universidade de Chisinau, com estudos depois nos EUA, onde também trabalhou para o Banco Mundial, a líder moldova foi eleita à segunda tentativa em 2020 e fez da aposta na UE, saindo da tradicional influência da Rússia, a estratégia nacional, apoiada por uma clara maioria da população.

No ano passado, Sandu visitou Portugal, onde há uma comunidade moldova bem integrada, e pediu o apoio do nosso país à candidatura moldova. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, retribuindo a visita, foi semanas depois a Chisinau reforçar o compromisso português com o pequeno país da Europa Oriental, uma nação pobre encravada entre a Roménia e a Ucrânia. E há poucos dias, a diplomacia portuguesa foi uma das 12 da UE que se pronunciou a favor de uma aceleração das negociações de adesão tanto com a Moldova como com a Ucrânia.

Sandu e as forças europeístas que a apoiam têm rivais de peso. Há partidos suspeitos de serem financiados por Moscovo para defenderem os interesses russos. Também a região separatista da Transnístria escapa há três décadas ao controlo de Chisinau e tem uma população em grande parte eslava que é pró-russa. Mas o apoio europeu, e em grande medida da irmã Roménia, assim como a solidariedade dos EUA, cujo chefe da diplomacia, Antony Blinken, visitou o país em finais de maio, é encorajador para a presidente moldova. As eleições presidenciais são no outono e Sandu já alertou que há manobras russas para influenciar o resultado, pedindo aos 2,6 milhões de habitantes do país para se manterem firmes no projeto europeu. Um grupo de jovens que lanchava num restaurante McDonalds da grande avenida Stefan Cel Mare admitiu que a adesão à UE é para o país se desenvolver economicamente, mas também para escapar das pressões de Moscovo. E desde a invasão da vizinha Ucrânia, há dois anos, os moldovos sentem que podem também ser alvo um dia das ambições territoriais da Rússia.

Com 80 por cento de falantes do romeno, mais minorias eslavas e turcófonas (os gagauzes), a Moldova integrou historicamente um principado romeno, a Moldávia, cujo apogeu foi há 500 anos, quando governava Estevão III, o Grande, ou Stefan Cel Mare. No século XIX a metade oriental da Moldávia, chamada de Bessarábia, foi incluída no Império Russo, mas em 1918, depois de uma breve independência, integrou com a Valáquia e a Transilvânia a Grande Roménia. Durante a Segunda Guerra Mundial, voltou a ser submetida a Moscovo, o que durou meio século, até à desagregação da União Soviética em 1991.

A população é cristã ortodoxa e é evidente a afinidade linguística e cultural com a Roménia, cujo sucesso desde que integrou a UE em 2017 serve de promoção dos valores europeístas. Mas também há quem se sinta próximo da Rússia, basta pensar que um dos principais monumentos de Chisinau, perto da Catedral Metropolitana, é um arco do triunfo que celebra uma vitória russa sobre o Império Otomano. Também nas livrarias de Chisinau, como a Librarius, entre os muitos livros em alfabeto latino há alguns outros em cirílico.

A adesão à UE passa então por criar um consenso nacional que ultrapasse as pressões russas, igualmente por uma solução negociada para a Transnístria, mas também por um reforço da democracia na Moldova, o que exige combate à corrupção. Numa conversa há um ano numa passagem por Lisboa, o então vice-primeiro–ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros Nicu Popescu garantia que eram muitos os progressos na transparência da governação desde que Sandu assumiu a liderança.

Texto: Leonídio Paulo Ferreira, jornalista do DN