Celebração religiosa presidida pelo cardeal Marengo, na Mongólia | Foto: DR

O dom da missão está no coração da Igreja. Desde a manhã em que a pedra do sepulcro rolou, a comunidade crente sentiu-se guiada a partilhar a imensa alegria da ressurreição e a oferecer às pessoas de todas as culturas a possibilidade concreta de experimentar esta nova realidade na sua vida. Eram homens e mulheres naquele primeiro grupo de discípulos-missionários, e ainda hoje são homens e mulheres que continuam a mesma dinâmica de anúncio do Evangelho. A vida missionária pode ajudar a ter uma visão ampla e enriquecedora da presença masculina e feminina na Igreja. A minha experiência no que se refere a este aspeto é muito positiva, e agradeço sempre a Deus por ela.

Depois dos anos do liceu, entrei nos Missionários da Consolata. Um único fundador – José Allamano – deu vida a esta congregação, com rostos masculinos e femininos, transmitindo a ambos os mesmos ensinamentos, no pleno respeito pela diversidade, mas na convicção de que eram necessários homens e mulheres para atingir o objetivo final, ou seja, a primeira evangelização. Não apenas um ou outro, mas ambos, juntos.

Allamano tinha razão e, pessoalmente, pude constatar e viver esta convicção a partir do primeiro dia em que pus os pés na Mongólia. Aliás, até foi antes, já que fizemos uma preparação antes da partida, com padres e irmãs da Consolata, que nos ofereceu a possibilidade de nos conhecermos e aprofundar a inspiração original do nosso carisma. No primeiro grupo da Consolata na Mongólia éramos cinco: três freiras, outro sacerdote e eu. Uma missão como esta, caracterizada por condições extremas, quer de população (menos de um por cento de católicos), quer de clima (temperaturas que oscilam entre os 40 graus negativos no inverno, e os 40 positivos no verão), e com uma língua muito difícil para aprender, exigia de nós uma certa abnegação e muita sinceridade para connosco.

Os traços do caráter de cada um de nós eram expostos naquela experiência de deserto. Apesar das diferenças entre nós, trabalhamos juntos, homens e mulheres, na diversidade de vocações, numa harmonia essencial, porque nos sentimos humildes, iguais, diante do desafio que nos foi entregue – anunciar o evangelho. Este desafio só pode ser realizado na fé e em plena liberdade, quer sejamos bispos, sacerdotes ou religiosos.

Para mim, a missão partilhada foi e continua a ser uma fonte de humanização integral. É também uma das condições para a vitalidade da missão, porque o respeito e a estima recíprocas que os missionários e missionárias têm entre si fazem parte do seu testemunho do evangelho. Na remota paróquia de Arvaikheer, na Mongólia, onde estive durante vários anos, os primeiros grupos de batizados eram formados inteiramente por mulheres. Como no sepulcro, as mulheres chegaram em primeiro lugar, e a seguir, levaram os maridos, os filhos e os pais, pois muitas mulheres ainda carregam sozinhas o peso das suas famílias. Durante a adoração eucarística, na igreja redonda em forma de ger, rezamos todos juntos, religiosos e religiosas, à volta do Santíssimo Sacramento. Na diversidade dos respetivos papéis e encargos, levamos juntos por diante o discernimento e o trabalho missionário, encontrando na oração a fonte viva de sermos filhas e filhos de Deus.

Texto: Giorgio Marengo, Missionário da Consolata, cardeal e prefeito apostólico de Ulaanbaatar, na Mongólia