O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) acaba de lançar, na República Democrática do Congo (RDC), um novo projeto na área da educação para apoiar crianças refugiadas e fortalecer as famílias mais vulneráveis face aos conflitos em curso no país. Já na Etiópia, segundo maior país de acolhimento de refugiados em África, a organização mantém vários programas e serviços que fazem a diferença na vida de milhares de pessoas que tiveram de fugir dos países vizinhos.
Victor Setibo, diretor do JRS na RDC, afirma, em entrevista ao portal de notícias do Vaticano que o trabalho da sua organização no país coloca um enfoque especial nas crianças e adolescentes refugiados devido à tremenda crise humanitária que se vive neste território. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o recrudescimento da violência na província de Kivu do Norte provocou a deslocação de quase 1 milhão de pessoas desde março de 2023, incluindo nas províncias de Kivu do Sul e Ituri.
“O Programa Estruturado de Proteção da Criança do JRS apoia crianças e adolescentes oriundos de populações deslocadas e comunidades de acolhimento, e está a operar nas cidades congolesas de Mugunga, Masisi e Minova. Procura melhorar o seu bem-estar psicossocial, fazendo provisões para que vivam e estudem num ambiente protetor e ajudando as famílias vulneráveis a melhorar a sua resiliência e rendimento”, explica.
Este novo projeto é patrocinado pela delegação do JRS nos Estados Unidos da América e apoia diretamente mais de 10 mil crianças. Segundo o plano da organização, 500 estudantes do ensino secundário beneficiarão de infraestruturas reabilitadas e equipadas, 1.500 raparigas receberão kits de higiene menstrual, 4.500 raparigas participarão em várias atividades em espaços amigos da criança, e 45 mulheres serão formadas em monitorização e gestão de crises de acordo com uma abordagem de proteção da criança baseada na comunidade.
“Esperamos proteger estas crianças de se tornarem autores de abusos e violência na comunidade. O projeto gostaria de lhes garantir um futuro melhor”, conclui Setibo.
Fazer a diferença no país que acolhe mais de um milhão de refugiados
Na Etiópia, que alberga uma população constituída por mais de um milhão de refugiados e requerentes de asilo, constituindo-se como o segundo maior país de acolhimento de refugiados em África, o JRS oferece vários programas e serviços que promovem a integração destas pessoas.
“Atualmente, a Etiópia acolhe mais de um milhão de refugiados de diferentes nacionalidades e países, principalmente dos países africanos vizinhos”, afirma Solomon Bizualem Brhane, diretor nacional do JRS na Etiópia, também citado pelo Vatican News.
“Eu vim para a Etiópia em 2005 por causa da guerra,” diz Florida Macumo, uma refugiada do Burundi que beneficia dos programas do JRS dirigidos aos refugiados urbanos em Addis Abeba, capital do país. As mesmas razões levaram Kwan Akol a deixar o Sudão do Sul em 2001, quando o país ainda estava unido ao vizinho Sudão.
Segundo os números fornecidos pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados para maio de 2024, existem 1.043.667 refugiados e 8.251 requerentes de asilo no país. A maioria destes são do Sudão do Sul, Somália, Eritreia e Sudão. Fugiram dos conflitos em curso nos seus países de origem. No entanto, a Etiópia também acolhe, em menor número, pessoas do Quénia, do Iémen, da RDC e até da Síria, o que a torna o segundo maior país de acolhimento de refugiados em África, a seguir ao Uganda.
“O JRS opera em Addis Abeba e no campo de refugiados de Dolo Ado no Estado Regional da Somália”, explica Bizualem Brhane. Nas áreas urbanas e nos campos, o JRS oferece programas de assistência e integração, incluindo educação não formal, cursos de línguas, iniciativas recreativas, atividades geradoras de rendimentos, ajuda de emergência, proteção infantil e serviços psicossociais.
Integrar e reconciliar
Esta gama de programas fornece aos refugiados apoio personalizado e comunitário, permitindo-lhes receber formação, adquirir competências e recuperar um sentido de normalidade apesar dos seus muitos desafios. A organização também desenvolve iniciativas para promover a reconciliação e a coesão nas comunidades de refugiados, muitas vezes marcadas por conflitos que têm raízes nos seus países de origem.
A integração dos refugiados na comunidade de acolhimento é uma prioridade para o JRS, refere Hanna Petros, a diretora de Projeto do Centro Comunitário de Refugiados do JRS (RCC) em Addis Abeba. Os esforços de integração envolvem a participação da comunidade de acolhimento em programas criados para os refugiados, tais como formação profissional e educação não formal, cursos de línguas (amárico e inglês), música e aulas de informática.
“Como refugiada, enfrentei muitos problemas, mas quando cheguei ao JRS, recebi educação e vários tipos de aprendizagem: inglês, informática, música, o que me ajudou muito na minha vida”, diz Sarah Tesfaye, que deixou a sua terra natal, a Eritreia, há cinco anos.
Entre os principais desafios enfrentados pelo JRS para apoiar os refugiados estão as restrições de recursos no país e a escassez de financiamento no setor humanitário, para além dos inúmeros conflitos armados vividos no território.
Perante as dificuldades, “ainda temos muitas histórias de sucesso”, diz Hanna Petros, sublinhando, por exemplo, a colaboração com o projeto do corredor humanitário que ajuda os refugiados mais vulneráveis, cerca de 500 até agora, a instalarem-se em Itália. “Defendemos os refugiados em muitos casos diferentes. Penso que tocámos as suas vidas através dos programas de subsistência e da assistência prestada pelos nossos dedicados funcionários”, menciona Petros.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados está atualmente a preparar o seu plano estratégico para os próximos cinco anos, com o objetivo de expandir as suas atividades para outras regiões da Etiópia. “Esperamos que o JRS se possa expandir nos próximos anos para ir ao encontro das necessidades dos refugiados e dos requerentes de asilo em Adis Abeba e em diferentes regiões do país”, conclui Brhane.
Em Portugal, o Serviço Jesuíta aos Refugiados abriu recentemente um novo centro de acolhimento, conforme noticiou o 7Margens.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.