O mais recente relatório da Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA) não deixa margem para dúvidas: o antissemitismo cresceu nos últimos cinco anos e disparou para níveis sem precedentes desde o passado mês de outubro, o que faz com que os judeus a residir na Europa estejam “mais angustiados do que nunca”. Temem pela sua segurança e sentem-se muitas vezes obrigados a esconder a sua identidade judaica para se protegerem.
O documento, que resulta do terceiro Inquérito da FRA sobre Discriminação e Crimes de Ódio contra o Povo Judeu na UE, foi divulgado na última quinta-feira, 11 de julho, e baseia-se numa investigação anterior aos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023 e à resposta militar de Israel em Gaza. No entanto, o estudo contém informações recolhidas mais recentemente de 12 organizações comunitárias judaicas, que mostram que os judeus sofreram um maior número de incidentes antissemitas desde essa altura, com algumas organizações a relatar um aumento de casos superior a 400 por cento.
De acordo com o relatório da agência sedeada em Viena (Áustria), 80 por cento dos entrevistados acreditam que o antissemitismo cresceu no seu país nos últimos cinco anos, particularmente na esfera digital. Do total de inquiridos, 90 por cento disseram ter encontrado antissemitismo online no último ano e 56 por cento afirmaram ter experienciado antissemitismo da parte de pessoas que conheciam. Houve ainda 37 por cento que referiram ter sido vítimas de assédio ou violência pelo facto de serem judeus.
“A Europa está a assistir a uma onda de antissemitismo, em parte causada pelo conflito no Médio Oriente. Isto limita severamente a capacidade do povo judeu de viver em segurança e dignidade”, alerta Sirpa Rautio, diretora da FRA, citada no comunicado de divulgação do relatório.
A pesquisa – que se baseou num questionário disponibilizado online entre janeiro e junho de 2023, ao qual responderam perto de oito mil judeus com mais de 16 anos a residir em 13 países europeus (entre os quais não se inclui Portugal) – revela essa limitação: a maioria dos entrevistados manifestou preocupação com a sua própria segurança (53 por cento) e com a da sua família (60 por cento). E mais de dois terços assumiram ter escondido a sua identidade judaica, pelo menos ocasionalmente (76 por cento), e 34 por cento disseram evitar eventos ou locais judaicos por se sentirem inseguros. Além disso, 24 por cento evitam publicar conteúdo online que os identifique como judeus.
Entre aqueles que responderam, 75 por cento acreditam que são responsabilizados pelas ações do governo israelita pelo facto de serem judeus e 62 por cento acham que o conflito israelo-palestino afeta a sua sensação de segurança. De referir ainda que menos de um em cada cinco dos inquiridos (18 por cento) considera que os Governos estão a responder ao aumento do antissemtismo de forma eficaz.
“Devemos aproveitar as leis e estratégias existentes para proteger as comunidades judaicas de todas as formas de ódio e intolerância, online e offline”, apela Sirpa Rautio. “Numa sociedade cada vez mais polarizada, precisamos urgentemente de difundir a mensagem de tolerância e garantir o respeito pelos direitos e liberdades fundamentais de todos.”
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.