O governo ditatorial de Daniel Ortega e da sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, anulou na última semana o estatuto jurídico da Rádio Maria na Nicarágua. Juntamente com a emissora católica, que transmitia no país centro-americano há mais de quatro décadas, várias igrejas evangélicas foram igualmente suspensas.
A decisão foi publicada no jornal oficial do Governo, La Gaceta, no passado dia 9 de julho, com o executivo a alegar que estas organizações não relataram “por períodos entre dois e 26 anos, as suas demonstrações financeiras” com “detalhe de receitas e despesas”.
Fontes citadas pela agência ACI Prensa apontaram que o mesmo executivo, através do Ministério do Interior, recusou receber essas demonstrações financeiras quando as organizações tentaram apresentá-las.
O aviso publicado em La Gaceta informava que o título das propriedades de todas as organizações listadas passará para o governo da Nicarágua, medida que tem acompanhado habitualmente a revogação do estatuto legal das instituições sem fins lucrativos no país [ver 7 Margens].
Fundada em 1983, a Rádio Maria conta com 82 estações a nível internacional – 28 na Europa (incluindo Portugal), 23 na América, 23 em África e oito na Ásia e Oceânia. O seu encerramento na Nicarágua ocorre depois de a emissora ter anunciado recentemente a redução das suas horas de programação, de 24 para 14 horas, devido ao congelamento das suas duas contas bancárias por parte do governo, o que impediu o recebimento de donativos.
“As contas da Rádio María foram congeladas, a sua programação foi alterada, eles foram monitorizados, assediados e, finalmente, cancelaram seu estatuto legal. A ditadura satânica da Nicarágua odeia a Igreja até a morte”, escreveu o ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos, Arturo McFields Yescas, na sua conta de X.
A investigadora e advogada exilada Martha Patricia Molina, autora do relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, alertou por seu lado que a ditadura Ortega-Murillo continua a perseguir os cristãos na Nicarágua “apesar do silêncio que foi imposto aos bispos e padres para que não continuem a denunciar as ações arbitrárias cometidas diariamente”.
No caso da Rádio Maria, explicou em declarações à ACI Prensa, “primeiro foi obrigada a cortar pessoal e horas de transmissão devido aos altos custos operacionais que são atribuídos ao aumento das tarifas de serviços básicos como eletricidade, que é uma forma empregada pela ditadura para sufocar financeiramente a Igreja”. Mais recentemente, “a vice-ditadora Rosario Murillo obrigou os diretores da rádio a incluir na sua programação os discursos diários que ela transmite nos média pró-governo”, acusou. Medida que não terá sido acatada e despoletado o desfecho que agora se conhece.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.