Existem cerca de 1,4 milhões de cuidadores informais em Portugal, sendo que poderão haver mais, para lá do registo oficial. Este número corresponde a dez por cento de toda a população portuguesa. Existem cuidadores informais desde sempre, que vivem maioritariamente sem apoios. Entre 2020 e 2023, o cuidador informal era em 85 por cento dos casos uma mulher, com uma idade média de 56 anos.
Um inquérito nacional realizado pela farmacêutica Merck, com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais e cujos resultados saíram no último ano, mostrou que 83,3 por cento dos cuidadores informais admitem ter-se sentido em estado de exaustão emocional em algum momento, e revelou também que cerca de metade dos inquiridos não são capazes de rir e ver o lado positivo como antes.
O Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais é constituído por uma parceria entre várias associações de doentes, que explicam que têm como propósito “perceber o que ainda falta fazer pelos cuidadores informais em Portugal, melhorando a sua qualidade de vida e, por conseguinte, a de todos os doentes nacionais”. Os dados dos inquéritos feitos junto dos cuidadores informais por este movimento revelam que estas pessoas “sentem falta de muita coisa”, sendo que há uma lacuna que se destaca – a falta de apoio psicológico – uma vez que “cuidar ‘rouba’ energia, exige paciência e dedicação, e gera stress e ansiedade”.
Ana Carolina Coelho, de 44 anos, abdicou da sua atividade laboral para cuidar do marido diagnosticado com uma doença oncológica, enfrentando variadas dificuldades. “Para ser cuidador, você tem que ter uma força que ninguém sabe que tem. Ser cuidador é muito grato, mas é muito ingrato. Você vê a pessoa morrer, vê a pessoa definhar, e você não pode fazer nada. Você só pode cuidar, e dar amor e carinho, mais nada. O cuidador pode sofrer mais do que a pessoa cuidada, porque o cuidador tem de gerir uma família inteira, e a pessoa cuidada não. Ela está ali à espera dos cuidados. E à noite, quando todas as luzes se apagam, o cuidador põe-se num canto a pensar quando é que é o final”, lamentou Ana Coelho, de lágrimas nos olhos e voz embargada, em declarações ao Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais.
“Vem para o meio”
É também a pensar nos cuidadores que desde 2006 o Santuário de Fátima oferece gratuitamente, com o apoio da congregação Silenciosos Operários da Cruz, a iniciativa “Vem para o meio – Férias para pais de pessoas com deficiência”. Esta proposta tem como objetivo “proporcionar um período de descanso aos pais de pessoas com deficiência”, referem os serviços de comunicação do templo mariano da Cova da Iria.
Este ano, está a decorrer a 17.ª edição desta iniciativa, com seis turnos semanais, que iniciaram no passado dia 17 de julho, e que se prolongam até ao próximo dia 9 de setembro, contemplando visitas a locais como o Santuário de Fátima, os Valinhos, as casas dos pastorinhos em Aljustrel, e a Praia das Rocas, em Castanheira de Pera. Esta iniciativa torna-se possível graças ao contributo de uma equipa de voluntários.
Marta Couto, religiosa do instituto Silenciosos Operários da Cruz, mostra como esta proposta pode ser a única oportunidade de descanso para tantos cuidadores. “Esta iniciativa ajuda famílias com filhos com deficiência. Muitas das vezes, é a única semana, o único tempo, que estes pais têm para descansar um pouco, para respirar, depois da intensidade que é cuidar 24 sobre 24 horas destes filhos especiais, mas com tantas necessidades, e, por isso, é para eles uma oportunidade de descanso, e é para nós, voluntários, uma oportunidade de recebermos, de vivermos e de conhecermos os dons que são estas pessoas portadoras de deficiência”, disse a religiosa na última edição desta iniciativa, em declarações aos serviços de comunicação do templo mariano da Cova da Iria. Segundo o Santuário de Fátima, ao longo dos anos, este projeto “já acolheu perto de mil pessoas com deficiência e respetivos cuidadores”.