Um relatório publicado na última semana pela Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) dá conta dos esforços do Partido Comunista Chinês (PCC) para “exercer controlo total” sobre a Igreja Católica e outras religiões, e para “erradicar à força elementos religiosos” que o partido considere contrários à sua agenda política, o que leva os autores deste documento a considerarem que o PCC viola o direito à liberdade religiosa.
Segundo este trabalho de investigação, as autoridades chinesas ordenaram a remoção de cruzes de igrejas, substituíram imagens de Cristo e da Virgem Maria pelas do presidente Xi Jinping, censuraram textos religiosos, forçaram membros do clero a pregar a ideologia do PCC, ordenaram a exibição de slogans do PCC no interior das igrejas, e forçaram grupos religiosos a inscreverem-se em “associações religiosas patrióticas”, sendo que aqueles que tenham uma prática religiosa fora das associações aprovadas pelo Estado podem estar sujeitos a prisão.
O documento refere que, em 2018, o Vaticano procedeu a um acordo não divulgado com o PCC onde se estabelecia uma cooperação entre autoridades da Igreja e oficiais chineses na nomeação de bispos, mas apesar desse acordo o “governo instalou unilateralmente bispos alinhados ao PCC sem a consulta e aprovação do Vaticano” [ver 7MARGENS]. Os esforços do PCC para controlar a religião estendem-se também a protestantes, muçulmanos, taoístas, budistas e adeptos de religiões populares chinesas, assinala ainda o documento.
O relatório dá conta do internamento forçado de muçulmanos uigures em campos de reeducação, onde devem jurar lealdade ao PCC e renunciar à sua língua, cultura e tradições religiosas, uma situação que o 7MARGENS tem acompanhado. É também apontada a reeducação forçada de budistas tibetanos e a remoção ou alteração de textos e imagens religiosas. As autoridades chinesas são ainda associadas à destruição ou alteração de estátuas e templos pertencentes a budistas e taoístas chineses. O trabalho de investigação indica que as ações do governo contra muçulmanos uigures podem constituir-se como “genocídio e crimes contra a humanidade”.
Asif Mahmood, comissário da USCIRF, disse à Catholic News Agency (CNA) que o PCC considera os católicos clandestinos uma ameaça porque eles não reconhecem a suposta autoridade do governo “para ditar a doutrina religiosa e regular os assuntos religiosos”. Segundo este responsável, as “autoridades continuam a fazer desaparecer líderes religiosos católicos clandestinos que rejeitam a Igreja Católica controlada pelo Estado, incluindo o bispo Peter Shao Zhumin e o bispo Augustine Cui Tai”. “O governo também se recusa a revelar o paradeiro de líderes católicos que estão desaparecidos há décadas, como o bispo James Su Zhimin”, acrescentou.
Nina Shea, diretora do Centro de Liberdade Religiosa do Instituto Hudson e ex-comissária da USCIRF, disse por seu lado à CNA que o PCC está a “tentar separar a Igreja Católica na China do Papa”. “Os bispos católicos são alvos especiais por causa do seu papel essencial dentro da Igreja hierárquica em garantir a comunhão com o sucessor de São Pedro”, disse Shea, que considera que a perseguição religiosa sob Xi é “a mais repressiva para os católicos chineses desde a era Mao”.