Indignados com as “fraudes grosseiras” que dizem ter-se verificado nas eleições do dia 9 de outubro e chocados com o “bárbaro assassinato de duas figuras políticas” na passada sexta-feira, os bispos católicos de Moçambique publicaram terça-feira, 22 de outubro, um comunicado em que apelam ao fim da “violência, dos crimes políticos e do desrespeito pela democracia” no país. “Tenhamos a coragem de enveredar pelo diálogo e de repor a verdade dos factos”, pedem.
Referindo-se a “enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade” que terão ocorrido no recente processo eleitoral, os prelados defendem que “a aplicação da lei eleitoral na fase do apuramento dos votos a nível nacional por parte das autoridades competentes, por si só, não pode garantir resultados fidedignos se os dados não o são”. E sublinham: “certificar uma mentira é fraude”.
“As irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçaram a falta de confiança nos órgãos eleitorais, nos dirigentes que abdicam da sua dignidade e desprezam a verdade e o sentido de serviço que deveria nortear aqueles a quem o povo confia o seu voto. Desta forma, empurram o povo não só a comprovar as suas desconfianças, mas também a se questionar sobre a legitimidade dos eleitos”, afirmam os bispos moçambicanos.
Ao mesmo tempo, apelam “ao respeito pelo direito à manifestação pacífica”, sendo que nas últimas horas manifestações convocadas pelo candidato da oposição, Venâncio Mondlane, foram dispersadas pela polícia. Esta lançou também gás lacrimogéneo contra o local onde o político fazia declarações aos jornalistas, obrigando-o a fugir.
As eleições do passado dia 9 em Moçambique incluíram votações para as presidenciais, legislativas e para assembleias e governadores provinciais. A Comissão Nacional de Eleições tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, e a expetativa é a de que os resultados venham a ser apresentados na quinta-feira, dia 24.
Reconhecendo que “a Igreja Católica, enquanto instituição, é apartidária, não apoia candidatos e não tem partidos”, os bispos lembram no entanto que “isso não significa que renuncie ao seu compromisso político e social, a um caminho concreto para a construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva, justa e fraterna, na qual todos devem viver em paz, com dignidade e futuro”.
Assim, terminam: “Nós os Bispos Católicos de Moçambique apelamos a todos os diretamente envolvidos neste processo eleitoral e no conflito gerado para que façam do exercício do reconhecimento das culpas e do perdão e a coragem da verdade, o caminho que permita o retorno à situação normal de um país que se quer vivo e ativo e não silenciado pelo medo da violência. Moçambique não deve voltar à violência!”
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.