Após um ano de formações e angariações de fundos, eu e mais nove companheiros de voluntariado, partimos rumo à Guiné-Bissau, para a missão de Empada, com o objetivo de reabilitar um jardim de infância. Com as nossas malas, levámos muita esperança, vontade de trabalhar e curiosidade para conhecer o povo com quem iríamos partilhar o mês de agosto. A missão de Empada recebeu-nos com muita chuva e calor, o que dificultou o início das obras, mas permitiu-nos conhecer os diferentes espaços, como o centro de saúde, o liceu, e as rotinas das pessoas que por lá vivem.
Durante os nossos passeios pela comunidade, percebemos que nos finais de tarde toda a comunidade se reunia para ver jogos de futebol e esses momentos permitiram-nos conhecer mais pessoas e os seus costumes. Todos faziam questão de saber o nosso nome, e as crianças iam connosco para todo o lado. Os nossos passeios fizeram-nos perceber que tínhamos muito por onde ajudar Empada e, graças a todas as pessoas e entidades que nos ajudaram em Portugal, poderíamos fazer a diferença.
Pondo mãos à obra no jardim de infância, começámos por limpar e pintar as quatro salas de aula, deixando-as mais coloridas. Enquanto isso, foi demolido um dos edifícios que se encontrava em mau estado, e deu-se início à construção do refeitório, das casas de banho e de um muro. Uma vez que somos a favor de promover a economia local, estas construções foram feitas com a ajuda de equipas de trabalho da comunidade de Empada, que receberam um valor pelo seu trabalho, e que ainda hoje estão a trabalhar para concluir a obra, enviando-nos fotos do seu progresso. Todo o material foi também comprado a vendedores locais. Com o avançar das obras, fomos percebendo que podíamos debruçar-nos sobre algumas melhorias, nomeadamente no centro de saúde, onde deixámos material médico, medicamentos, redes mosquiteiras e fórmulas para bebé que levámos de Portugal. Também arranjámos a ambulância que estava avariada, comprámos cadeiras para a sala de espera e ventoinhas. Como tínhamos uma enfermeira no grupo, ela disponibilizou-se para ajudar no centro de saúde.
Na comunidade, distribuímos roupa, calçado, equipamento e bolas de futebol provenientes de Portugal, e cabazes com alimentos. No jardim de infância, para além do projeto de reabilitação, comprámos painéis solares e bomba de água para retirar água do poço, assim como mesas e cadeiras para o refeitório e salas de aula, e ainda baloiços e escorrega para o recreio. Por fim, percebemos que os pais das crianças tinham muitas despesas com a educação, e por isso deixámos para os cerca de 100 alunos do jardim lápis, cadernos, borracha e mochila. Para o liceu, comprámos cadernos para os 900 alunos que estudam lá. No liceu, a pedido do diretor, alguns de nós deram aulas de português, uma vez que a maioria falava crioulo.
Com isto, o nosso mês de agosto foi sendo preenchido com dias cheios de trabalho, aventuras e um sentimento de pertença à comunidade. Sair à rua era sinal de convívio e alegria, já que ouvíamos o nosso nome a ser chamado para conversar. As crianças estavam sempre presentes com as suas gargalhadas e abraços. Adaptámo-nos à chuva e às molhas que já não eram incómodo e que até ajudavam a lidar melhor com o calor. Os pés cheios de lama não eram um problema porque isso significava que tínhamos estado a criar memórias!
O último dia em Empada chegou, e com ele a inauguração do jardim de infância, que estava cheio com alunos e os seus pais, e ainda com algumas crianças e pessoas da comunidade que quiseram ver as transformações. O ambiente era de festa e alegria! Também neste dia chegou o momento das despedidas, o que tornou o dia agridoce. Percebemos todos que tínhamos criado laços de amizade com a comunidade e dizer ‘adeus’ não era fácil. Nos últimos dias era costume dizermos entre nós que gostaríamos de ficar mais um mês, e que gostaríamos de voltar. Na verdade, temos recebido notícias de lá e alguns de nós continuam a ajudar com os estudos de algumas das crianças, e isto faz-nos sentir ainda próximos da Guiné-Bissau! Empada entrou nos nossos corações. Sabemos que não seremos os mesmos depois desta experiência, e sinto que posso falar por todos quando digo: ‘Até já, Empada!’
Texto: Cláudia Duarte, Leiga Missionária da Consolata