Francisco entendeu que o documento votado no último sábado tem já “indicações muito concretas para a missão das igrejas”. Foto © Vatican Media

“O que está a acontecer em Gaza, que segundo alguns especialistas parece ter as características de um genocídio, deve ser cuidadosamente investigado”, defende o Papa Francisco, num novo livro que o jornal espanhol El País antecipou este domingo, 17 de novembro.

No livro A esperança nunca desilude (cuja edição em espanhol é da Mensajero), Francisco aborda a questão das migrações, para chegar ao que se vive em Gaza. Defendendo que “é absolutamente necessário que as causas da emigração sejam enfrentadas nos países de origem”, o Papa aponta a necessidade de “os programas implementados para o efeito [enfrentar causas na origem] garantam que, nas zonas afetadas pela instabilidade e pelas mais graves injustiças, haja espaço para um desenvolvimento autêntico que promova o bem de todas as populações, em particular das crianças, esperança da humanidade”.

O Papa Francisco — que iniciou o seu pontificado com uma viagem a Lampedusa — destacou os movimentos migratórios provocados pelas guerras mais recentes. “Pensemos nos exemplos recentes a que assistimos na Europa. A ferida aberta que é a guerra na Ucrânia provocou a fuga de milhares de pessoas das suas casas, sobretudo nos primeiros meses do conflito. Mas também assistimos ao acolhimento sem restrições de muitos países fronteiriços, como foi o caso da Polónia.” E acrescentou o exemplo da guerra entre Israel e o Hamas: “Algo de semelhante aconteceu no Médio Oriente, onde as portas abertas de países como a Jordânia ou o Líbano continuam a ser a salvação para milhões de pessoas que fogem dos conflitos na região: estou a pensar especialmente naqueles que saem de Gaza no meio da fome que atingiu os seus irmãos e irmãs palestinianos, perante a dificuldade de fazer entrar alimentos e ajuda no seu território.”

É neste ponto que Francisco lançou a questão do genocídio, pedindo uma investigação rigorosa. “O que está a acontecer em Gaza, que, segundo alguns especialistas, parece ter caraterísticas de genocídio, deve ser cuidadosamente investigado para determinar se se enquadra na definição técnica adotada por juristas e organizações internacionais.”

Um outro futuro económico é desejado pelo Papa. Para Jorge Mario Bergoglio, nome com o qual o texto é assinado no El País, é necessário “envolver os países de origem dos maiores fluxos migratórios num novo ciclo virtuoso de crescimento económico e de paz que inclua todo o planeta”.

Só com a garantia de “uma partilha equitativa do bem comum, o respeito pelos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral”, haverá uma migração que “seja uma escolha verdadeiramente livre”. É este “mínimo” garantido “em todas as nações do mundo”, que se poderá “dizer que quem migra o faz livremente e poderemos pensar numa solução verdadeiramente global para a questão”, defendeu o Papa. “Estou a pensar, em particular, nos jovens que, quando emigram, provocam muitas vezes uma dupla fratura nas suas comunidades de origem: uma porque perdem os elementos mais prósperos e empreendedores e outra porque as famílias se desagregam.”

Este objetivo só será alcançado quando se acabar “com a desigualdade dos termos de troca entre os diferentes países do mundo”. “Instalou-se uma certa ficção nas ligações entre muitos países que aparentaria ser uma suposta troca comercial, mas não passa de uma transação entre filiais que pilham os territórios dos países pobres e enviam os seus produtos e royalties para as suas sedes nos países desenvolvidos. A título de exemplo, podemos citar os setores ligados à exploração dos recursos naturais do subsolo. São as veias abertas desses territórios”, denunciou.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária.

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