O final de mais um ano é, tradicionalmente, um momento usado pelos Missionários da Consolata em Portugal para lançar uma ação de angariação de fundos, que deverá decorrer ao longo do ano seguinte. A campanha de 2025 tem como tema ‘Ajude-nos a salvar um refugiado em Marrocos’, e o objetivo é apoiar uma estrutura dos Missionários da Consolata na cidade de Oujda, em Marrocos, que tem como propósito dar proteção àqueles que estão em fuga da guerra e da pobreza.
As dificuldades sentidas naquela cidade são retratadas por Edwin Osaleh, um sacerdote Missionário da Consolata em missão numa paróquia em Oujda, onde as igrejas católica e evangélica desenvolvem trabalho pastoral, com o contributo de leigos e religiosos de diversas congregações. “A nossa igreja está situada numa encruzilhada de fronteiras e caminhos migratórios que ligam a Argélia, Marrocos e Espanha. Por isso, é um lugar de passagem para aqueles que deixaram o seu país para fugir das guerras e da pobreza”, explica Edwin, que demonstra os efeitos dos conflitos.
“Durante os passados meses de verão chegaram muitos jovens do Sudão, onde há uma terrível guerra civil.” Edwin refere que alguns desses refugiados “atravessam o Chade, Níger e Argélia, e chegam a Marrocos depois de viagens perigosas”. “Chegam à nossa igreja até 40 pessoas por dia, que vêm cansadas, famintas, muitas vezes descalças, por vezes doentes ou feridas, e sempre cheias de dor pelas famílias deixadas para trás, ou afetadas pela violência, e pelos seus planos destruídos pela guerra. Oferecemos alojamento, alimentação, vestuário, cuidados médicos, formação profissional e dispomo-nos a escutar. A grande quantidade de pessoas que chegam colocam os nossos recursos à prova. Alimentação, vestuário, medicamentos e assistência médica geram gastos constantes e necessários”, conta o missionário.
As consequências da guerra no Sudão do Sul também se fazem sentir. “De lá chegou um casal com uma filha. Partiram porque estavam cansados da guerra, mas acabaram na Líbia, onde encontraram mais sofrimento. Conseguiram chegar a Marrocos atravessando a Argélia. Estiveram connosco quase dois meses. Entretanto encontraram trabalho em restaurantes e têm o mínimo de recursos para alugar um apartamento.” Os missionários acolhem também “menores guineenses, que partem em busca de formação profissional e de trabalho na Europa com o objetivo de sustentarem as suas famílias”. Esses adolescentes, “muitas vezes, com apenas 15 ou 16 anos de idade”, enfrentam um “percurso de mais de 4.000 quilómetros, atravessando o Mali, Níger e Argélia”.
Em apenas dois meses – julho e agosto – os missionários acolheram “cerca de 800 pessoas, principalmente do Sudão e da Guiné, mas também dos Camarões, Somália e Sudão do Sul”. “Quase dez por cento são mulheres e crianças”, refere o missionário. Foram também acolhidos “17 menores não acompanhados e 26 crianças com menos de dez anos”. A pensar nas crianças mais pequenas existe uma creche. Entre os jovens acolhidos neste período, “muitos” chegaram feridos, outros doentes, e “duas mulheres sofreram violência sexual”. Só naqueles dois meses, “foram atendidas 190 pessoas, sendo que “um jovem morreu na sequência de um ataque”, e nos seus últimos dias de vida contou com o acompanhamento dos missionários, que estabeleceram contacto com a sua família. Entre os menores não acompanhados acolhidos neste período, “alguns decidiram retomar a viagem, enquanto seis optaram por seguir cursos de formação profissional” e permanecem junto dos missionários.
Em 2023 e 2024, os Missionários da Consolata contribuíram para a “formação de 22 jovens em eletricidade, culinária e pastelaria”. A formação contou com um estágio. “Dois dos jovens tiveram resultados tão positivos que os selecionámos para a escola profissional de três anos dos Salesianos em Kenitra. Assim, abre-se-lhes um novo caminho”, destaca o padre Edwin. Ao mesmo tempo, os missionários contam com o registo de “cerca de 25 novos jovens para fazer formação profissional em eletricidade e pastelaria neste ano letivo”. Os missionários oferecem também “cursos de alfabetização de curta duração em francês”, assim como “apoio académico” em matemática e a possibilidade de “aprender a língua local”, adianta o sacerdote. As doações para esta campanha são destinadas a todas estas atividades dos missionários, de apoio a estas pessoas em situação de vulnerabilidade.